quinta-feira, 19 de abril de 2007

Keith Emerson - Plays Emerson

Welcome back my friends to the show that never ends - Ladies and gentlemen Keith Emerson.
Dito isto (este título imenso parafraseando o album mais conhecido do trio de Keith) vamos aos fatos: EMERSON PLAYS EMERSON, do tecladista KEITH EMERSON não é um disco para todo e qualquer fã do ELP. Pra começar não tem um único MOOG. Não tem a bateria do CARL PALMER e nem a voz do GREG LAKE. Se você não se importa com isso vá em frente.

Nenhum dos elementos acima faz falta, mas poucos estão dispostos a ouvir piano solo. Nunca fui um desses e ao contrário da maioria, esperava ardentemente que meus tecladistas favoritos gravassem alguma coisa em piano pra que eu pudesse compara-los. É muito “fácil” iludir os ouvintes com pilhas de sintetizadores. O mesmo não se dá com um instrumento tão nobre como é o piano.

KE sempre teve no piano seu maior companheiro. Suas músicas eram (são) compostas nele e depois “convertidas” para o arranjo de sintetizadores, órgãos, clavinetes, melotrons, etc. Neste disco ele tem a chance de coloca-lo em primeiríssimo plano. O material é um tanto diverso, mas passada a primeira faixa, a balada VAGRANT, encontramos o velho KE de sempre em CREOLE DANCE do argentino ALBERTO GINASTERO, de quem ele eternizou para o público progressivo a bela TOCATTA. Essa segunda faixa traz toda a energia do velho (e porque não?) ELP.
Mas o bom de se ouvir apenas o piano é que o músico tem a chance de mostrar e provar pra que veio. O contraste entre CREOLE DANCE e a terceira faixa SOLITUDINOUS é característico disso. É uma música muito bonita, que deixa claro que KE é de fato um bom compositor além de músico dado a piruetas.

Curioso KE citar o comediante DUDLEY MOORE no encarte – por sinal ponto forte do disco, cheio de bons e pertinentes comentários do artista - mas é que por aqui poucos sabem que ele era um bom pianista clássico. Em BROKEN BOUGH, KE presta-lhe um tributo. Vale a pena ficar de olho em um especial que volta e meia o canal Multishow reapresenta com o DM falando sobre música clássica com diversos maestros e regendo além de tocar.

A CAJUN ALLEY já traz o lado mais “mundano” de KE que por vezes aparecia em uma ou outra música curta do ELP, como BENNY BOUNCE, e este estilo (CAJUN MUSIC, típico da Louisiana francesa) lembram muito os boogie-woogies que ele tocava nos improvisos de piano e no álbum WORKS 2. Já PRELUDE TO CANDICE é outra balada, trilha do filme italiano MURDEROCK, mas que tem a harmonia característica das composições do ELP. Fica o suspense de quando entrará a bateria de CP ou o vozeirão de GL.

A BLADE OF GRASS tem uma historinha curiosa, daquelas que gostamos de contar para os amigos. Ele conta que durante a gravação de BLACK MOON, enquanto o produtor MARK MANCINA regulava a mesa de som, ele improvisou um pouco ao piano. O MM veio ver e como já estava tarde, marcaram a gravação para o dia seguinte. Pois ele chegou no estúdio, foi ao banheiro e quando tirou o casaco ouviu um CLUNK e um SPLASH. A agenda eletrônica dele caíra dentro do vaso (isso mesmo) e ficou boiando lá inutilizada e com a partitura dentro dela. O jeito foi se concentrar (quem ler o encarte original vai saber o que envolveu a “concentração”) e tentar relembrar o que escrevera. Parece que deu certo. OUTGOING TIDE tem uma introdução um tanto suspeita, mas os primeiros acordes da melodia aparecem pra salvar a tempo. É uma composição muito pianística e não é qualquer um que se sai bem com a dinâmica e a entonação que ela pede.

Eis que surge SUMMERTIME. Isso mesmo, talvez a música mais gravada de GEORGE GERSHWIN, mas não há nisso nenhum demérito, pois ela permite as mais variadas interpretações e KE opta por uma levemente mais jazzística com a participação dos músicos MIKE BARSIMANTO e JERRY WATTS, na bateria e no baixo respectivamente. O amigo de KE, KEVIN GILBERT foi o responsável por ligar os gravadores e gravar essa versão, que pelo indicado foi primeira e única. INTERLUDE, como ele mesmo diz no encarte: “Is what it is.” ROLL’N JELLY é uma brincadeira com o nome de JELLY ROLL MORTON, pai do piano jazzístico que libertou e dignificou os pianistas, antes meros fazedores de música em bordéis. KE está completamente à vontade no estilo.

Na música seguinte (B&W BLUES), outros dois músicos aparecem: FRANK SCULLY (bateria) e ROB STATHAM (baixo). O trio está bem melhor aqui, principalmente por causa do baixo de RS, mais presente e ensaiado que o de JW. Um tema de blues com uma levada jazzística ao estilo de OSCAR PETERSON (mais sobre ele daqui a pouco). Pelo que conhecemos do KE, o B&W do título deve muito bem se referir a uma conhecida marca de uísque.

Chegamos pois a FOR KEVIN, uma música gravada ao vivo e em memória do amigo (então falecido) KG. Foi gravada em 1996 e apesar do timbre, ou foi gravada em um piano “midiado” ou foi usado um sintetizador (prefiro a primeira opção por causa dos acordes finais – não havia tão bons sintetizadores assim nessa época gerando sons de piano). Umas irritantes cordas aparecem por trás da melodia, uma espécie de réquiem. Vale por conta da homenagem e por sentirmos a “humanidade” de KE ressentido pela perda do amigo. THE DREAMER é outra música de cinema, do filme BEST REVENGE. Nota-se que KE não é um compositor de trilhas, mas de músicas. Ouça e concorde ou discorde.

Em HAMMER IT OUT, KE lembra que o piano é um instrumento da família da percussão (por causa dos martelinhos que batem nas cordas) e nessa composição não nos deixa esquecer disso.
BALLAD FOR A COMMOM MAN não é o que eu esperava. O que eu queria? Talvez que ele tocasse a composição de AARON COPLAND sem aquele timbre chato do órgão Yamaha que ele usou pra grava-la em WORKS 2 do ELP. Como ele diz no encarte que a fanfarra nós já ouvimos, fiquemos então com a balada. Em tempo: a FANFARRE FOR A COMMOM MAN é parte da belíssima Sinfonia Nº 3 para piano de AC. Vale conferir.

BARRELHOUSE SHAKEDOWN apareceu pela primeira vez como lado B do compacto simples que tinha HONKY TONK TRAIN BLUES, que apareceu em WORKS 2. Aqui ela aparece em uma nova gravação sem os colegas do trio e a orquestra do mesmo álbum, mas nem por isso perde o brilho e o colorido. O cara se divide em dois pra tocar uma coisa dessas, mas essa é a beleza do piano. Compare as versões e veja por você mesmo que ele se divide em muitos suprindo as partes da orquestra.

NILU’S DREAM é outra balada. Estávamos vindo em um ritmo crescente e este tema serve pra colocar as coisas de volta em ambientes mais calmos. Funcionaria como “introdução” para a música seguinte (SOULSCAPES), mas a diferença entre os timbres dos pianos é tanta que quase assusta. Não que sejam ruins, apenas nota-se que mudou.

CLOSE TO HOME é outra das três faixas ao vivo do disco. Gravada em 1992 no ROYAL ALBERT HALL, é bem interessante apesar do mesmo timbre com cordas. Acredito que ao vivo funcionasse bem, mas no disco as cordas soam um pouco em demasia, mas aqui temos os glissandros e outras figuras rocambolescas que aprendemos a gostar no nosso amigo.

Bem, é um álbum com faixas suficientes pra ninguém dizer que foi iludido. Estamos indo para a 21ª e esta foi a razão por me interessar por este disco. KE toca com seu ídolo: OSCAR PETERSON. Mas não é só isso, eles tocam HONKY TONK TRAIN BLUES, um clássico do grande (em todos os sentidos) MEADE LUX LEWIS. Mas espere (parece anúncio de facas da TV), tem mais ainda: eles são acompanhados por uma big band. É fantástico. Muito bom. Queria estar em Londres em 1976 pra assistir esse programa do OP: PIANO PARTY, onde ele convidava pianistas famosos (na verdade seria muito estar em Londres nessa época por todos os motivos).

Sendo assim, chegamos na última faixa do disco, a 22ª. Deveriam ter incluído essa faixa e dito que era um bônus. Não que ela seja ruim, mas é de pouco interesse ouvir KE tocando piano aos 14 anos. Vale o registro histórico. É engraçado ouvir o som de “taquara rachada” e desafinado do piano, mas com certeza não é imperdível como algumas das faixas que a antecedem.
Eu disse imperdível? Pois é, esse disco é imperdível pros fãs de outrora.
Valeu
T+

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