quinta-feira, 19 de abril de 2007

Patrick Moraz - I

PATRICK MORAZ visitou o Brasil em 1975 e ficou encantado com os percussionistas brasileiros. O suíço antecedeu muita gente boa que veio na mesma onda e o próprio movimento de WORLD MUSIC (que vocês sabem que começou com PAUL HORN tocando flauta dentro do THAJ MAHAL). Foi mais do que encanto. Ele saiu daqui com uma fita embaixo do braço, gravada em 16 e 17 de Agosto do mesmo ano. Levou essa fita prá casa, sentou no estúdio construindo música em torno das bases de percussão e piano gravadas no Rio. O resultado é I (CHARISMA RECORDS JAPAN, 1976, VJCP-2544), álbum conceitual que descreve a (alucinada) estória de um edifício no meio da Selva Amazônica onde as pessoas iam para desfrutar todo tipo de prazeres, subindo os andares do prédio até chegarem no topo, onde pulavam de mãos dadas e desintegravam-se antes de se atingirem o chão. A história é bem condizente com o espírito megalomaníaco de PM, mas a louca combinação de percussão, teclados, e outros instrumento, soa perfeitamente coerente. O músico conseguiu encaixar a percussão brasileira como poucos.

O álbum abre com uma cortina de sintetizadores e... Caixa de fósforo, seguida de berimbau, tamborins, surdos, repique, frigideira, ganzá, pandeiro, mais sintetizadores, agogô, cuíca e bateria. Inacreditável. É o verdadeiro Samba do Suíço Doido. Além dos “Percussionistas do Rio de Janeiro”, tem um time de primeira tocando com ele: JEFF BERLIM (baixos) RAY GOMEZ (guitarras) ALPHONZE MOUZON e ANDY NEWMARK (bateria) e JOHN MCBURNIE e VIVIENNE MCAULIFE (vocais).

O suíço misturou música clássica, samba, ponto de macumba, de capoeira; fez baião chamado CACHAÇA, colocou música romântica (afinal é uma história de amor) no meio e ficou bom.
Uma das melhores músicas é INTERMEZZO, algo pseudobarroco, onde os vocais fazem um bonito contraponto; francês do lado esquerdo e inglês do direito. São duas letras ao mesmo tempo, evoluindo para um piano rocambolesco, seguido de uma parte espanhola e uma com “toda a orquestra”, onde baixo, bateria, sintetizadores (MINI MOOGS, ARPS, etc) antecedem INDOORS, que tem uma boa “batalha” entre guitarra e MINI MOOG, que por sua vez antecede outra entre ARP (direita) e MOOG (esquerda), com divisões em crescendo de 7/8, 10/8, 13/8, 14/8 e “etc”. Quando as coisas se acalmam chega o momento romântico de BEST YEARS OF OUR LIVES.

O então lado dois começa com outra cortina de sintetizadores em DESCENT e aparece novamente a percussão em INCANTATION-PROCESSION “uma cerimônia de funeral na selva. Um canto de macumba é ouvido vindo do fundo” (a estória é confusa, mas a música excelente). Em DANCING NOW, ele continua a salada, com tamborins, agogo, bateria e piano: “uma das faixas gravada ao vivo no Brasil em um único take”. IMPRESSIONS é uma mistura de temas, que me soa como um improviso de piano. Aí temos outra música romântica com piano, baixo e bateria. RISE AND FALL é o princípio do fim, com bom solo de guitarra sobre a base de percussão até o tal salto de mãos dadas. O fim é SYMPHONY IN THE SPACE, um bonito tema que lembra um pouco o grego VANGELIS.

Parece louco? E é. Este é daqueles álbuns pra se ter em casa, e mostrar pros amigos, ainda mais que agora, passados 30 anos do seu lançamento, ele não ficou datado.

Parabéns ao suíço, que chegou a gravar outro disco (OUT OF THE SUN - CHARISMA 1977) com brasileiros, mas não tão bem resolvido como este.

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