terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Keith Emerson – The Christmas Album

Alguns anos atrás eu comecei a reunir álbuns de natal. Não sei bem como isso começou, mas achei interessante como certos músicos (re)interpretavam músicas mais do que conhecidas. Foi mais ou menos assim que cheguei nesse disco do Keith. Mais ou menos porque desde que o trio Emerson, Lake & Palmer deixou de produzir trabalhos inéditos, procurava por coisas dele. Isso foi em um tempo sem a internet, quando achar um álbum de qualquer um que não estivesse na parada de sucessos era um sofrimento. Mas isso é passado.

A versão que comento aqui, tem 9 faixas e tem todo jeito de um bootleg. Foi lançado pela britânica AMP Records, mas isso não era estranho, porque sem uma grande gravadora por trás, os outros álbuns dele também foram lançado por pequenos selos.

Como se pode esperar da maioria dos discos solo de tecladistas de rock, este conta com poucos convidados. Frank Scully é o baterista em “Silent Nights”, Lês Moir o baixista em “We three Kings” e alguns outros apenas na programação dos sintetizadores, todos tocados pelo próprio Keith, claro.

O disco abre com variações para o tema tradicional “O Little Town of Bethlehem”. Boa e majestosa abertura. Todos os timbres característicos de Keith estão aqui, principalmente o virtuosístico solo de piano que alterna-se com os elemntos mais formais da canção e segue para um improviso mais jazzístico em (pseudo) trio com baixo e bateria, que destaca o andamento dessa valsa jazzística. “We Three Kings” é a segunda faixa, novamente com os timbres mais característicos de Keith. Nesse tema, dele e de Hopkins, destaca-se o baixo de Lês Moir, que com certeza foi escrito pelo tecladista, pois se parece muito com algo que ele tocaria. Um piano trio encerra em fade out a faixa, dando espaço para “Snowman’s Land”, do próprio Keith, com título sugerido pelo seu filho Damon. Peça pianística que por estar em um disco natalino, lembra o Natal, mas que poderia ser incluída em qualquer outro álbum. Como sempre, o toque orquestral dos diversos sintetizadores traz a marca do ELP. O Oratório de Natal de Bach, surge com sua “Ária” na quarta faixa e é bonito, como tudo que Bach fez, mesmo com a bateria eletrônica, que perdeu seu impacto com o passar dos anos. “Captain Starship Chistmas” já começa como uma boa promessa. Uma criança conta a história, um dos cantores do West Park School Choir. Nessa aqui a mixagem ficou muito estranha. Os sintetizadores solo ficaram muito baixos, para não embolarem com o coral, mas um pouco mais de trabalho na mesa de mixagem não era mal. Não sei se a outra versão desse álbum, com 12 faixas corrigiu esse e alguns outros problemas. A participação do coral é deliciosa e nem um pouco pieguas. Pecado do qual esse disco escapa por pouco. “I Saw Three Ships” tem ótimos timbres e uma introdução bem apropriada. O tema desenvolve-se de maneira regular sem muitas surpresas, mas aí está sua maior qualidade. Único pecado aqui é terminar mais uma vez em fade out, com o volume diminuindo aos poucos. “Petites Litanies de Jesus” de Gabriel Goroulez e arranjada por Keith é a sétima música. Bem suave, com um timbre não muito inovador, mas assim como Rick Wakeman, Keith não tem como característica timbres novos. Ele soa como Keith Emerson com naturalidade e a escolha das harmonias e vozes é o que nos faz sentir estarmos ouvindo um velho amigo contando suas histórias. “It Came Upon a Midnight Clear”, tema arranjado por Keith abre como uma pequena orquestra, com pizicatos, sinos e cordas para evoluir logo em seguida como um pequeno quarteto de cordas. Do meio para o fim, ao expor novamente o tema, as vozes se dividem pelo baixo e cordas. A última faixa é a conhecidíssima “Silent Night”, tocada ao piano no estilo “Keith Emerson toca Oscar Peterson” com a bateria do citado Scully e o coral The London Community Gospel. Uma tremenda covardia, porque as vozes e o tema são puro Natal. Em tempos de MP3 e downloads, essa seria a faixa pra baixar. Mas em tempos de MP3 e downloads, ela provavelmente seria creditada a outro e não ao Keith, pois ele está o mais “jazzy” possível, improvisando e brincando muito bem sobre o tema, em uma levada lenta, que propicia que o coral “chore”. O destaque aqui é pra evolução da voz solista (infelizmente não creditada) que aos poucos vai assumindo seu lugar à frente do coro, sem deixar o clima lento. Muito boa.

Como a maioria dos discos de Natal que ando ouvindo, principalmente nessa época do ano, esse não tem muita unidade. Os temas são irregulares e as interpretações mais ou menos inspiradas, mas como todos esses discos, o que vale é ouvir seu artista favorito em um ambiente completamente diferente do que estamos acostumados.

Só posso dizer uma coisa: Feliz Natal.
Nos vemos no próximo ano, por aqui mesmo ou por alguma publicação de papel pelas bancas.

Tudo de bom pra todos.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mary Fahl – From the dark side of the moon


A capa aí de cima é conhecida de todo mundo. Não tenho medo nessa afirmação porque é um dos discos mais manjados já lançado. A “novidade” (entre aspas mesmo porque já rola por algum tempo aqui na rede) é uma cantora ter a ousadia de fazer um cover deste clássico. Acabando com o suspense, vou hoje comentar sobre um disco não lançado.

Cover é uma palavra que me causa alguns arrepios. Não gosto quando fazem recriações perfeitas, cópias exatas. Gosto das inexatas e mais, não vejo sentido em um artista não interpretar à sua maneira uma obra. Claro que o público em geral gosta e se o público gosta, sempre há um artista disposto a dar o que o público quer. Felizmente não foi o caso da Mary.


Em uma pesquisa que você mesmo pode fazer você vai encontrar o seguinte: “Depois de dois discos solo (um EP e um CD completo) abaixo de sua capacidade, a vocalista Mary Fahl, na minha opinião, a alma do OP, estava mais perdida que pum em bombacha. A única coisa que tinha como certa é que queria um repertório mais forte, que trouxesse paixão e grandiosidade. Seu empresário, Steven Saporta, entrou em contato com o produtor David Warner com a idéia de fazer um disco de covers, mas Warner teve uma idéia mais ousada: reinterpretar um único disco clássico, do começo ao fim. O projeto, desafiador por si só, ganhou um peso ainda maior quando Warner e Fahl escolheram o disco a ser recriado, nada menos que The Dark Side Of The Moon, a obra máxima do Pink Floyd, que passou nada menos que 14 anos consecutivos na lista de 200 discos mais vendidos da Billboard e é o quinto disco mais vendido de todos os tempos. A princípio, Mary assustou-se com a ambição do produtor: “Ele (o disco) é como o Cálice Sagrado, uma obra de arte danada de boa, muito mais que o produto de uma época” - declarou.”

Dito isso, você está situado na história do disco, então vamos nos aprofundar mais um pouco. O trabalho é totalmente inesperado, principalmente por ser fruto de 3 pessoas: a cantora Mary Fahl, o produtor David Warner e o guitarrista e tecladista Mark Doyle. Contam por aí que os três compartilhavam certa desilusão com os caminhos da música pop e profunda admiração pelo disco do Floyd. Eles entraram no estúdio de Doyle para gravar "Us And Them" e o resultado inicial foi tão bom que resolveram iniciar o projeto.

O que tem de interessante nessa recriação é que fica longe dos covers “Xerox” habituais. Acho que é difícil imaginar como o disco de uma cantora, acompanhada por um só músico pode mostrar o talento dela, não desrespeitar as músicas que todos conhecem e ficar bom, principalmente um disco que é metade instrumental. Doyle teve uma saída genial. Ele transformou a voz de Mary em mais um instrumento. Lembram do solo de voz (que sempre menciono como o orgasmo mais longo já gravado em disco) em "The Great Gig In The Sky" com a impressionante Clare Torry? Pois é, não dava pra copiar aquilo nota por nota. Ao invés disso optaram por algo que se assemelha a um lamento xamânico. Realmente é difícil de imaginar, mas aí reside toda a sabedoria e beleza desse disco. Como Werner explica: “Nenhum de nós estava interessado em simplesmente fazer boas versões de grandes músicas. Existem bandas tributo do Pink Floyd pra isso, mas se nós conseguíssemos reinventar a intenção por nós mesmos, então teríamos a chance de redescobrir alguma coisa que pudesse ter nova vida por si só”.

Speak to me” começa com a percussão fazendo as batidas do coração e a voz de Mary em várias camadas reproduzindo o original e preparando a entrada de “Breathe”. Entra então ótima guitarras de Doyle, e a característica frase original de Gilmour preparando um clima dark a entrada do vozeirão característico de Mary, que canta inicialmente sem acompanhamento. A música ganhou muito, ao ser despida da instrumentação original, com a bela melodia original ficando bem destacada. “On The Run” abre com um vocalize de Mary brincando no estéreo e uma figura repetida de guitarra, seguida de efeitos, como uma guitarra invertida e um baixão sintetizado bem diferente, além de piano e bateria. Cá entre nós, mais interessante do que a original. Aí aparecem os diversos “despertadores” que anunciam “Time”. Um clima etéreo aparece em oposição ao que havia sido ouvido até então. O baixo de Waters é de certa forma recriado. Quando entra Mary, sua voz tem é muito mais um lamento do que a voz original e angelical de Gilmour. Sem desrespeitar o original, a voz dá espaço a um lindo solo de guitarras (são pelo menos três), pra depois retornar à melodia cantada, com backings do próprio Doyle. Em seguida vem a já comentada “The Great Gig In The Sky”, cujo grande mérito é afastar-se da original no que ela tinha de mais marcante, o solo de voz. Grande expectativa pra essa faixa e não é nem um pouco decepcionante, pelo contrário. Estamos certos então de estarmos ouvindo uma recriação de um clássico. Exatamente por isso as percussões orientais não surpreendem quando iniciam “Money”. Mary confere um tom jocoso à sua voz e fica incrivelmente interessante com o que Doyle faz por trás: uma incrível cortina de guitarras e uma interessante harm&onica solo. “Us and Them” que como você já sabe foi a primeira gravada e por muitos anos a minha favorita, é lenta. Um violão dá dicas da melodia. Aqui novamente Mary canta praticamente à capela e outra vez a melodia ganha com isso. Essa música aqui perdeu aquele clima de baladinha que escondia o grande tema que ela realmente é. O solo de sax original foi substituído por um lindo vocalize de Mary, que canta um pouco além do seu registro mais confortável. “Any Colour You Like” se beneficia da capacidade de Doyle em criar climas a partir de poucas notas, que é o que ele faz ao piano elétrico aqui. Muitas vozes de Mary se sucedem em camadas até um refrão onde as vozes foram visivelmente trabalhadas em estúdio. Tudo isso quase que como uma introdução para a incrivelmente simples “Brain Damage”. Sempre toquei essa música mais de uma vez, mesmo nos tempos do LP, mas aqui dá pra ouvi-la muitas vezes. Está excepcional. Não teve grandes mudanças, mas a voz de Mary transmite uma dor que com certeza estava nos planos de Roger Waters, mas inexistente no álbum original por conta das limitações vocais do que compositor. “Eclipse” já abre chorando. Doyle se encarrega de “chorar” na guitarra. Mary começa a recitar a letra, com sua voz duplicada em camadas. Instrumentação aparentemente simples e clássica: guitarra, baixo, bateria e cordas. Nas cordas é que reside o sutil truque, ao traçar uma segunda melodia.

Quando acabei de ouvir esse disco, não sabia o que dizer. Havia um misto de muitas emoções. Se “Dark Side Of The Moon” é um cálice sagrado, como a própria Mary se referiu, o que ela e seus dois parceiros conseguiram fazer aqui traça uma linha divisória definitiva. Todos os outros tributos que já ouvi, inclusive um ótimo, integralmente feito só por vozes, mostraram-se muito aquém deste aqui. Se eu tinha um turbilhão de emoções e a sensação de estar ouvindo DSOTM pela primeira vez, havia uma pergunta: porque algo tão incrível não foi lançado oficialmente?

Posso imaginar muita coisa, mas a verdade é mais prosaica. A gravadora original sucumbiu em um processo de reestruturação e abandonou o projeto. O empresário de Mary e todos os envolvidos estão se esforçando para achar outro selo pra lançar esse disco fantástico. Eu espero sinceramente que consigam.

Você pode achar mais informações aqui:
http://www.markdoyle.com/dsotm.html
http://www.maryfahl.com

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

TEMPUS FUGIT – Chessboard

Um novo disco do Tempus Fugit é sempre recebido com expectativas. Tudo começa com a bela arte gráfica de Bernard, atual e enquadrada no contexto do álbum, mas depois ou enquanto, nos deliciamos com o visual, colocamos o CD e logo uma explosão acontece. Uma cortina de sintetizadores, à la Vangelis/Moraz, abre o disco. Uma frase do baixo anuncia a parte II de “Pontos de Fuga” e a participação efetiva do quarteto. A gravação está excelente. Ponto pra Anderson Costa e Luiz Tornaghi, respectivamente Engenheiro de Som e responsável pela masterização. “Ponto de Fuga” é a música exata pra abrir o CD, mostrando uma boa pegada da banda e essa “pegada” continua em “Unfair World”, que traz um clima diferente, um pouco mais suave, mas a guitarra de Henrique Simões não deixa a música se perder. Aparentemente ele e Ary Moura (bateria) são os responsáveis por puxar a música pra cima, mas é impossível deixar de comentar que o baixo de André Ribeiro mantem-se honradamente ao fundo, sem perturbar ou distrair, funcionando como boa ancora do todo. Essa é uma das músicas cantadas do disco, mas não se deixe abalar, a qualidade instrumental é tão boa que você não vai exigir mais deles. Supertramp nunca teve um grande vocalista e era ótimo. Mas o excelente tecladista, não é um mal cantor. O vocal é correto e talvez aí esteja o detalhe. Eles esbanjam técnica e intimidade nos instrumentos, mas falta (ou fez falta) um vocal com mais personalidade, não aqueles vocais femininos operísticos que estão em moda. O som do Tempus Fugit pede algo bem próximo do que eles tem e pensando bem, é melhor deixar como está. Henrique dá belas choradas com sua guitarra aqui, onde aparece o discreto violão de André Ribeiro. Algumas passagens em uníssono de piano e guitarra, principalmente os compassos finais, são memoráveis. “Only to be with you” já começa com andamento acelerado, sem dar descanso aos músicos. Como sempre, bons solos de uma guitarra bem timbrada e de um Moog afinado (oops, André avisa na capa que o Moog estava “doente”, portanto alguém bem parecido tomou seu lugar). O clima muda para a entrada dos vocais e logo a guitarra puxa tudo pra cima novamente, não deixando o romance ficar nem adocicado nem enjoativo. Essa faixa tem 10m e não é a maior. Num contexto assim, seria fácil perder o rumo, mas não acontece. O solo de baixo, perto do fim, foi uma maneira bem interessante de mostrar isso.

Lá fui eu falar de vocais femininos lá em cima e “The Princess” começa praticamente com a bela voz de Mirna Bertling. Sou forçado a discordar de mim mesmo e dizer que a voz ficou muito boa. Quando junto com a de André, o resultado é melhor ainda. Por falar em resultados diferentes, não se percebe a alteração dos músicos que houve nestas duas faixas, salvo pelo solo de guitarra em “Tears from the Sky” que está mais sujo, no bom sentido. O responsável é José R. Crivanho (do Quaterna Réqueim)que assumiu a guitarra nesta faixa. O baixo foi para Pedro Perz e Henrique Simões ficou com o violão, fazendo um interessante solo na primeira parte.

“Chessboard” (a música) traz os membros originais aos seus postos e um tema quase italiano, de tarantela, com uma guitarra bem pesada. Não chega a ser, mas é quase como o cruzamento do PFM com o Sepultura. Podemos ouvir então mais um convidado, o cantor Fernando Sierpe. Nem preciso falar, porque é melhor ouvir, mas Fernando, Nirma e André juntos chegam bem perto da perfeição. Chama muita atenção a variedade de timbres da banda. André Mello é um conhecido mestre de bom gosto no que se refere aos timbres dos seus teclados, as é raro uma banda em que todos variam e sabem fazer bom uso das sonoridades dos seus instrumentos. Isso fica bem claro quando o disco vai se aproximando do final e o clima entre todos os instrumentos é de total harmonia. Os quatro comungam os ideais da deusa Música.

Tempus Fugit é pra quem gosta de tudo. Tem de tudo do bom e do melhor. Tecladistas vão se esbaldar, guitarristas vão se fartar, baixistas se deliciar e bateristas aproveitar as levadas de André M., André R., Henrique, Ari & cia. Eu por aqui só posso ficar de pé e aplaudir.

Rick Wakeman – Out There...

Rick Wakeman é uma referência para qualquer tecladista. Chamado por alguns de “mago dos teclados”, é na verdade um tecladista com formação clássica que no início dos anos 70 aventurou-se pelo rock com grande sucesso. Sua participação no grupo YES foi decisiva para o som sinfônico que eles buscavam. Em uma entrevista revelou que sua função na banda era “apenas embelezar as músicas” dos outros. Declaração modesta e verdadeira. Como tecladista de apoio é um dos melhores, mas a maioria dos seus discos solo acaba decepcionando. Sua estréia com o instrumental “Six Wives...” chamou a atenção para o até então jovem e desconhecido, tecladista do YES. Seu projeto seguinte “Journey to the Center of the Earth” fez mais sucesso, unindo uma orquestra sinfônica e um coral a um grupo de rock, mas as melodias e as letras deixavam a desejar. “King Arthur” seguia a mesma fórmula, mas as melodias e letras estavam mais entrosadas e apesar de não ter feito o mesmo sucesso, musicalmente é superior ao segundo. Quando ele lançou “No Earthly Connection” houve um grande alarido dos fãs que sentiram falta da orquestra e praticamente da megalomania dos dois projetos anteriores, mas a música se sustentou. Vou parar aqui e dar um salto pra 2007 com o disco em questão: “Out There (In Space)”.
Depois de muitos álbuns irregulares, alguns gravados apenas por questões contratuais e de uma “fase new-age” que ele mesmo não reconhece (“Colocaram um piano no palco, os gravadores embaixo e me disseram pra tocar”) ele ressurge com um álbum atual e moderno, mas com todas as características que se espera de um disco de um tecladista. Com as características de um disco do Rick Wakeman. Como o “No Earthly” o tema é a música e o espaço, um hobby que ele cultiva com ajuda de amigos na NASA. A principal diferença deste álbum para qualquer outro dele está na sonoridade da guitarra de ANT GLYNNE. Na bateria está o parceiro de longa data TONY FERNANDES, que tem uma pegada atual e mostra-se mais versátil do que nunca. Para os vocais foi chamado DAMIAN WILSON e no baixo LEE POMEROY. Esta é a nova formação do ENGLISH ROCK ENSEMBLE.
Parece que após os álbuns RETRO (Vol. 1 e 2), Rick descobriu o prazer de tocar e a não ter vergonha dos timbres característicos de seu MINI-MOOG. O disco foi lançado em duas versões. Uma, com a capa vermelha com seis faixas e outra, de capa azul, com nove faixas. A músicas é vigorosa e os momentos contemplativos são mínimos e bem colocados. Para um ouvinte desavisado, pode até parecer um álbum de uma banda como DREAM THEATER ou similar com um tecladista que soa como RW. Mas após algumas audições o álbum cresce de tal maneira que é fácil percebe-lo como um dos melhores da extensa discografia de RW, mesmo sem a orquestra sinfônica, mas repleto de solos de guitarra, MINI-MOOG e órgãos. Altamente recomendado a todos que gostam de boa música.

sexta-feira, 14 de março de 2008

HAPPY THE MAN – The Muse Awakens

A banda HTM foi criada nos anos 70 em pleno furacão dos movimentos ART-ROCK, FUSION e progressivo. Ela tornou-se uma lenda mesmo com apenas dois discos lançados oficialmente porque dentre outras coisas, o tempo mostrou que sua música era mais do que um furacão passageiro ou um modismo. O site do grupo descreve sua música como além deste mundo. Não iria tão longe. Diria que a banda é sincera o suficiente pra fazer aquilo que gosta de modo convincente. “The Muse Awakens” é o álbum de retorno após longos 25 anos de ausência. Várias bandas retornaram nos últimos tempos mais como uma pálida sombra do que eram nos tempos de glória, mas não é isso o que se ouve nesse disco.

ladeado pelo baixo Rick Kennell, que pode nno nas armadilhas inaudteclado dobrando o a quase jazzui parece estar em casa. As composições são todas muito interessantes e a execução dos cinco integrantes, primorosa. “Contemporanity Insanity” que é abre o disco é uma excelente amostra da capacidade deles. Composta pelo tecladista David Rosenthal, não é de se estranhar que destaque os teclados. Com uma divisão interessante e tipicamente fusion, tem ótimos solos não só do compositor ao Moog, mas do guitarrista Stanley Whitaker. A faixa título, a segunda do disco, acalma um pouco as coisas. Composta por Whitaker tem a ótima presença do sax de Frank Wyatt expondo a melodia entremeada com toques do sintetizador de Rosenthal, levemente parecido com o trabalho de Lyle Mays no Pat Metheny Group. A música caminha em um suave crescendo que funciona pra banda mostrar como trabalha sua dinâmica.

“Stepping Through Time”, de Wyatt muda um pouco a sonoridade do grupo graças à flauta do compositor, mas logo o Moog reaparece com sua (hoje) majestade. Rosenthal consegue lembrar todos os tecladistas clássicos do progressivo sem se parecer com nenhum deles. Aqui a guitarra de Whitaker faz um dos melhores solos do disco. As divisões e andamentos se alternam como sugere o título, mas como seu (então) contemporâneo Gênesis, sem chamar atenção pra isso. Mesmo sem ser um dos integrantes originais da banda, Rosenthal tem largo espaço pra trabalhar. Não lhe falta experiência, já que trabalhou com artistas como Billy Joel, Robert Palmer, Rainbow e Steve Vai dentre outros, aqui parece estar em casa. Prova disso é a bonita “Maui Sunset”, onde ele deixa seus companheiros exporem o tema, primeiro a flauta depois uma guitarra quase jazzística, enquanto ele faz um belo acompanhamento ao piano e uma lindíssima cama de cordas. “Lunch at Psycodelicatessen” de Whitaker abre com uma figura rítmica na guitarra pra lá de desconcertante e prossegue assim por todo o tempo com o sax e teclado dobrando o tema e avançando cada vez mais até aproximar-se de um experimentalismo sem cair nas armadilhas inaudíveis do mesmo. Fecha com algumas surpresas, mas é melhor ouvindo do que lendo.

“Slipstream” é outro tema de Wyatt e abre com um belo piano ladeado pelo baixo Rick Kennell, que pode não se destacar como solista mas cuja presença garante uma cozinha de excelente qualidade junto com o outro novato além de Rosenthal, o baterista Joe Bergamini. "Barking Spiders" retorna ao clima mais fusion e mostra exatamente o entrosamento da cozinha com brakes e mudanças de andamento surpreendentes. "Adrift" é quase uma bossa-nova e retorna a banda a mais uma balada com Wyatt agora no sax tenor. "Shadowlites" é a única música cantada do disco e tem um toque progressivo típico das baladas dos anos 70. Whitaker não faz feio nos vocais, até porque ele sabe não ter a voz de um Greg Lake ou Jon Wetton. "Kindred Spirits" abre com o piano elétrico do autor, que vai aos poucos recebendo o acréscimo dos outros membros, mas é uma das músicas mais lineares do disco. Pra fechar, "Il Quinto Mare" retoma o entusiasmo da abertura e de "Barking Spiders", com toda a atmosfera progressiva que os fãs mais gostam.O ritmo bem marcado da bateria forte, a guitarra distorcida e a grandiloqüência (sem pejorativos, por favor) dos teclados, com Rosenthal fazendo mais um de seus ótimos solos com um timbre totalmente original. O disco é uma grata surpresa ao mostrar que "reunions" podem ser surpreendentes pelo talento e não pelo aspecto "circense" ou “geriátrico”. Álbum altamente recomendado não só a tecladistas, que podem apreciar o trabalho de Rosenthal sem mais ninguém à sua frente, mas também aos que gostam de boa música.

CHICK COREA e BELA FLECK – The Enchantment

Chick Corea é um talentoso e prolixo músico. Sabe como poucos estar em vários estilos e formatos, praticamente sabe estar em vários lugares ao mesmo tempo. Não é surpresa que ele apareça compartilhando um disco com o banjoísta Bela Fleck, afinal Bela é que flerta com o Jazz desde seus primeiros discos com os Flecktones. Corea já tinha participado de um disco solo de Fleck, portanto parece mesmo algo natural. Talvez surpreendente mesmo seja o duo de piano e banjo.

Fleck é um excelente músico e sua discografia está aí pra provar, mas daí a se aventurar justamente com um ícone do jazz e do fusion como Corea é outra história. Ou não? Bem, o repertório divide-se entre composições dos dois músicos e uma surpresa. “Señorita” que abre o disco, mostra a integração e até semelhanças entre os dois músicos. O tema de Corea é mais uma de suas rendições aos ritmos latinos. As frases em uníssonos dos dois funcionam muito bem. “Spectacle” de Fleck, coloca o autor como coadjuvante, com Corea expondo o tema antes do improviso de Fleck, com algumas citações brasileiras já que o banjo em alguns momentos parece muito com o nosso cavaquinho, mas acho que apesar de haver um título brasileiro no repertório pode ter sido mera coincidência.

Em “Joban Dna Nopia” de Corea, ele começa no registro médio e grave do piano. A surpresa é de como Fleck vai conseguir encaixar seu limitado instrumento. Fica certa lacuna. Paco de Lucia se sairia melhor com seu violão, mas Fleck consegue, com seu virtuosismo, sair das ciladas que o banjo arma pra ele. Nos momentos em Corea sola, o banjo parece-se soar mais como um cravo. Curioso do instrumento é a pouca dinâmica, tal como o citado cravo. A saída é a velocidade da execução e a quantidade de notas que o músico deve executar. “Mountain” é um bluegrass típico de Fleck. Os papéis se invertem e a pergunta passa a ser como Corea irá incluir seu piano, mas sendo quem é, bastam as primeiras notas pra se perceber que não há caminho por onde ele não possa aventurar-se. Isso fica mais claro quando se houve a versão de “Childrem’s Song #6”, música que Corea já executou com sua banda Return To Forever, o vibrafonista Gary Burton e em piano solo. Inspirada por Béla Bártok, favorece um bonito contraponto entre os dois instrumentos e propicia que Fleck improvise melhor do que nunca. Esse é um daqueles inesgotáveis clássicos que todo compositor persegue.

Os temas “A Strange Romance”, “Menagerie” e “Waltse for Abby” mostram a versatilidade do compositor Bela Fleck. A primeira com inspiração clássica, a segunda com um toque latino e novamente certo sotaque brasileiro e a terceira definitivamente comprovando que ele pode muito mais do que o instrumento que escolheu. Um tema que poderia ter saído da mente de qualquer grande baladista jazzístico, ou mesmo do próprio Corea. Depois disso aparece “Brasil”, a surpresa que mencionei no início e que é a versão deles para a nossa “Aquarela do Brasil”. Não há indicação no encarte de quem teve a idéia de incluí-la no repertório, mas, com esses dois, tudo é possível. Infelizmente, aqui Fleck tropeça. Sua participação fica muito aquém do esperado. Sua primeira exposição da melodia é feita de forma simples e só quando a repete, deixa entrever o que poderia ter feito, mas não fez. A culpa não é dele, mas nossa, por termos excelentes músicos que já a interpretaram de maneira genial, como o mestre Jacob do Bandolim. Corea ao contrário deixa passar o que poderia ser esse tema em piano solo. Fica devendo. Na faixa título, Fleck dobra a melodia com Corea e o banjo soa um pouco como um bandolim, talvez resquícios da faixa anterior. Fleck faz um bom solo mas também fica devendo. Em “Sunset Road” Fleck apaga parte dessa dívida, por ter composto o tema, que é um bom veículo pra Corea. Mas qual não é? O improviso de Fleck quase empata o jogo. Suas escalas fogem do lugar comum, ainda mais em se tratando de um banjo.

Este não é um álbum pra qualquer um. Os fãs do Corea jazzístico ou fusion podem ficar frustrados, mas os que querem o desbravador que fez “The Leprechaun” e “Mad Hatter
” saberão apreciar. Aos que querem conhecer do que Fleck é capaz, talvez a melhor indicação seja um dos seus discos com os Flecktones. Seja como for são dois instrumentistas de respeito em um encontro que se não tem o encantamento proposto pelo título, nos dá a certeza de que boa música pode vir dos mais inusitados encontros.

McCoy Tyner – Horizon

McCoy Tyner é um grande pianista que dispensa apresentações. Todos os seus álbuns são ótimos, mas esse em particular me traz grandes lembranças. A maior delas foi a de ter descoberto o violinista John Blake exatamente aqui. Entretanto, esse é um disco singular por muitos motivos. As composições de Tyner aqui tem um desenvolvimento um pouco diferente. Peguemos por exemplo a faixa de abertura. Horizon possui uma cadência forte e acentuada, repleta de sincopadas do piano do líder e ótimos solos de Joe Ford no sax alto e de John Blake no violino. Apesar da levada jazzística e da condução soberba de Al Foster na bateria, os improvisos sobre uma das figuras rítmicas do tema não era muito característicos dos discos de Tyner. Apesar do timbre do violino de Blake lembrar o de outro grande violinista, o francês Jean Luc Ponty, seu som é um pouco mais “sujo” sem se valer de recursos eletrônicos. Guilherme Franco também está presente com um curto solo de congas. O tema é de colar no ouvido e de se ficar assobiando, magistralmente exposto pelo líder e Blake, com acentuações dos metais integrados por George Adams Além do já citado Ford.

"Woman of Tomorrow", a segunda faixa abre com Tyner seguido por Blake na exposição do tema. Aqui o violino é daqueles “de chorar”, lembrando as melodias de Piazzola. Após a dramática abertura, Blake interpõe improvisos ao tema acompanhado por Ford e Adams nas flautas. Em Motherland destaca-se o baixo de Charles Fambourgh que começa sozinho aparentemente mostrando o tema, mas que na verdade é apenas uma cadência para os solos dos companheiros. Tyner faz o último solo em uma faixa repleta de energia. Uma rumba em levada rápida seria One For Honor. Pelo menos ela começa assim, novamente com o baixo de Charles. O tempo rápido é tudo o que Tyner precisa pra improvisar. Como aqui há só o trio piano baixo e bateria, fica fácil perceber a independência entre as mãos de Tyner, dando aquela gostosa sensação de dois pianos. Just Feelin’ é a última (no LP original) e poderia ser apenas “sentimento”, mas há muita técnica envolvida aqui, tanto na maestria de Tyner quanto no sax de Adams. O CD traz uma faixa bônus. Uma versão alternativa de Horizon. O disco foi magistralmente produzido por Orrin Keepnews, que revela no encarte alguns detalhes de como funcionava seu pequeno selo nos idos anos 70. Entre outras coisas, descobrimos que não há mais faixas extras porque as músicas foram gravadas direto, em apenas uma tomada. Muito, mas muito diferente dos discos superproduzidos e repletos de overdubs de outros artistas, até mesmo jazzísticos. Horizon tem quase 30 anos mas poderia muito bem ter sido produzido no mês passado ou no ano que vem. Mais atual impossível.

Trace – Rick Van Der Linden

É impossível falar do grupo TRACE sem começar por Rick van der Linden (5-Agosto-1946 – 22-Janeiro-2006). Ele nasceu perto de Amsterdã na Holanda. Aos 13 anos começou a estudar piano e depois entrou para o conservatório Haarlem, onde estudou Órgão de Tubos. Terminou seus estudos em 1967, obtendo louvor em Piano, Órgão de Tubos, harmonia e contraponto. Mas sua paixão por diversos outros tipos de música, o levou a tocar com vários músicos na própria Holanda.

Ele se tornou mais conhecido como compositor, tecladista e líder da banda de rock-sinfônico EKSEPTION, que teve carreira duradoura porém irregular desde 1967 até 2003. Aqui no Brasil ele apareceu somente quando formou o grupo TRACE (1973-1976) com o guitarrista/baixista JAAP VAN EIK e o baterista PIERRE VAN DER LINDEN. Suas composições eram invariavelmente uma combinação entre música clássica, com predominância do órgão de igreja, rock e pop.

Dito isto, parece que o primeiro álbum da banda não chamaria a atenção, entretanto, quando chegou até nós, havia o boato de que o baixista era na verdade o guitarrista JAN AKKERMAN, que saíra recentemente da banda FOCUS usando um pseudônimo. A confusão se dava pela presença do baterista, realmente ex-integrante da mesma banda. Mas eram apenas boatos em uma época em que o boca-a-boca substituía a internet.

Este disco é desconcertante. A partir das primeiras notas se ouve algo com o mesmo fogo e energia de um EMERSON, LAKE & PALMER, sem mais nenhuma similaridade além dessas. JAAP é um baixista e guitarrista superior a GREG LAKE e PIERRE um baterista bem mais modesto quando comparado a CARL PALMER, mas nesse álbum ele está diferente.

GAILLARDE abre o disco misturando o 3º movimento do Concerto Italiano de BACH com uma música tradicional polonesa e mostrando de cara a virtuosidade dos três músicos. Uma base rítmica rápida e enérgica apóia o solo de órgão; vocais femininos e masculinos e um solo de trumpete são feitos ao Mellotron revelando a dimensão sinfônica da banda. GARE LE CORBEAU é um intermeso onde JAAP faz um fantástico solo de baixo com “fuzz” e a banda retorna a GAILLARDE com PIERRE mostrando uma enorme competência poli rítmica nunca vista em seus dias com o FOCUS.

THE DEATH OF ACE é um arranjo de uma parte da suíte PEER GUNT de GRIEG após RICK visitar a casa do compositor e ter autorização para tocar em seu piano. Originalmente intitulada THE DEAT OF AASE na suíte de GRIEG, RICK decidiu alterar o nome por conta do nome escolhido anteriormente para a banda, mas que não pode ser usado por já estar registrado por outro grupo.

THE ESCAPE OF THE PIPER teve origem em um sonho de RICK onde um concerto da banda era interrompido por um som distante e não definido, então de repente gaitas de fole invadiam o palco e roubavam a música do grupo. RICK escreveu o tema e tocou as gaitas de fole, usando um aspirador de pó ligado ao contrário para fazê-las funcionar.

ONCE é construída sobre um tema jazzístico e tem o órgão da introdução, praticamente raptado pela seção rítmica em um frenético tempo.

PROGRESSION é uma longa suíte baseada em diversos ritmos diferentes e mostra uma combinação de vários instrumentos e muitos teclados sucessivamente: piano, sintetizador, Mellotron, cravo e órgão. O pesado som do baixo de JAAP abre a peça e a encerra com a inclusão do “fuzz”. É uma perfeita amostra das ambições virtuosísticas da banda, com inúmeras paradas, acelerações e mudanças de tempo.

MEMORY iniciou-se em um encontro em um hotel alemão onde RICK encontrou o guitarrista sueco do duo NOVA. Eles improvisaram tocando no saguão do hotel onde RICK havia montado seu órgão pra tocar e compor quando tivesse vontade. Ele ficou impressionado com uma canção folclórica sueca que o guitarrista lhe mostrou. Ele escreveu e arranjou a peça ali mesmo. A “canção dos pássaros” é reproduzida na introdução pelos sintetizadores.

THE LOST PAST é um ótimo solo de PIERRE, perfeitamente encaixado no todo do álbum. Um solo como ele não havia feito em nenhum álbum até então.

Jan Hammer – THE BEST OF MIAMI VICE

Jan Hammer foi por alguns anos o tecladista da MAHAVSHNU ORQUESTRA de John McLaughlin. Só isso foi o suficiente pra que as atenções estivessem sobre ele por um longo tempo, mas foi com seu trabalho na trilha sonora do seriado de televisão MIAMI VICE que o grande público tomou conhecimento do seu trabalho. Foi a primeira vez que a música atuava como um personagem. Suas entradas não eram óbvias e os temas em si tinham um toque de modernidade condizente com o ambiente da série. Quando MIAMI VICE foi filmada por Hollywood Hammer não foi sequer consultado. Esse disco mostra todo o talento dele e deixa no ar a curiosidade de como seria o filme com a música de Hammer. Quem nunca assistiu ao seriado não tem como saber que toda a trilha do filme teve inspiração direta na música de Hammer.Em 1984 ele foi chamado pelos produtores para criar a música do ainda não lançado seriado. Cada episódio era musicado como um filme independente. Sem nunca ter lido um roteiro, sua inspiração vinha ao assistir as fitas dos episódios prontos que eram enviadas de Los Angeles para ele em Nova York. Cada episódio levava de 4 a 5 dias para ter a música pronta. Logo ele tornou-se a terceira estrela do show junto com os dois protagonistas. Em novembro de 1985 esta trilha chegou ao número 1 da revista americana Billboard, feito que não acontecia para trilhas de seriados desde MUSIC FROM PETER GUNN de Henry Mancini 26 anos antes. Ouvindo-se esse disco, se percebe o tremendo trabalho de Hammer. Ele criou músicas com estilos do rock ao reggae, do clássico ao jazz além de temas tipicamente dele. Algumas músicas desse disco foram regravadas e ampliadas, como a primeira MIAMI VICE THEME e CROCKETT’S THEME, mas mantendo a atmosfera original. Aqueles que nunca ouviram o trabalho desse tecladista nascido em Praga – Tchecoslováquia - vão com certeza estranhar as inúmeras guitarras que aparecem em diversas músicas. Trata-se de uma das especialidades de Hammer, também baterista. Não que ele toque guitarra em uma guitarra. Ele consegue tirar de seus teclados, incríveis sons de guitarra. Isso faz com que alguns álbuns seus com guitarristas famosos como JEFF BECK e AL DIMEOLA se tornem tão interessantes. Neles há duelos de guitarras e teclados que mais parecem feitos por dois guitarristas. THE BEST OF MIAMI VICE funciona mesmo para os que não viram o seriado. É um disco que tem muito a ensinar sobre trilhas e como quebrar os limites do óbvio.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Anders Helmerson - FIELDS OF INERTIA

Anders Helmerson é um tecladista sueco que participou nos anos 70 de muitas bandas de curta duração. Depois de gastar três anos preparando e gravando seu primeiro trabalho END OF ILUSION, ficou decepcionado com o fiasco da repercussão, vendeu todos os seus instrumentos e mudou-se para o Canadá onde o foco nos “magos dos teclados” era maior. Entretanto depois de participar do selo Atlantic com várias bandas de sucesso, voltou à Suécia para estudar medicina. Nos anos seguintes, END OF ILUSION transformou-se em um tipo de cult e ele acabou assinando contrato com o selo francês MUSEA pra relançar o disco em 1995. Nos anos seguintes, ele trabalhou como cirurgião em Copenhagem e como médico de bordo em um navio de cruzeiros viajando por todo o mundo.

Foi assim que ele chegou ao Rio de Janeiro, cidade que passou a morar depois de largar seu emprego no navio. Com sua nova vida no Brazil, veio seu interesse novamente pela música, após 15 anos de afastamento. Junto com alguns artistas brasileiros e o apoio do selo SOM INTERIOR, ele lançou este álbum: FIELDS OF INERTIA. Gravado no Rio entre Janeiro e Junho de 2001, com gravações adicionais feitas em Cambridge (Inglaterra) e mixado em Nova York em Setembro antes de ele retornar ao Rio para masterização e lançamento em 2002. O álbum impressiona. Seja pelo uso da percussão brasileira como também pela performance de Anders nos teclados. É um disco curto, com apenas 33 minutos, mas logo fica claro que resiste a audições sucessivas, crescendo em cada uma delas. O álbum consegue a proeza de recriar a atmosfera dos anos 70 enquanto se mantém atual. A música tem um toque sinfônico tendo alguns momentos bombásticos, mas sempre com muito bom gosto.

Os instrumentos percussivos, geralmente bateria, congas e tambores, adicionam não só um toque Afro-Sulamericano mas também uma dimensão muito diferenciada. Os três percussionistas são: Célio de Carvalho, Robertinho Silva e Valmir Bessa, mas o destaque vai para o excelente baixo de Rogério de Castro. Esse trabalho pode ser comparado ao dos grandes “mestres” Rick Wakeman e Patrick Moraz. Pode-se ouvir um pouco de fusion e de música clássica aqui e ali. As melhores músicas são: a longa CITY OF A HAUTING SILENCE, WINDS OF OLODUM e INFINITE FIELDS OF INERTIA, mas o todo é maior do que a soma das partes e como estas estão muito bem amarradas, ele merece ser ouvido do início ao fim, que é quando ele realmente brilha.