terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Keith Emerson – The Christmas Album

Alguns anos atrás eu comecei a reunir álbuns de natal. Não sei bem como isso começou, mas achei interessante como certos músicos (re)interpretavam músicas mais do que conhecidas. Foi mais ou menos assim que cheguei nesse disco do Keith. Mais ou menos porque desde que o trio Emerson, Lake & Palmer deixou de produzir trabalhos inéditos, procurava por coisas dele. Isso foi em um tempo sem a internet, quando achar um álbum de qualquer um que não estivesse na parada de sucessos era um sofrimento. Mas isso é passado.

A versão que comento aqui, tem 9 faixas e tem todo jeito de um bootleg. Foi lançado pela britânica AMP Records, mas isso não era estranho, porque sem uma grande gravadora por trás, os outros álbuns dele também foram lançado por pequenos selos.

Como se pode esperar da maioria dos discos solo de tecladistas de rock, este conta com poucos convidados. Frank Scully é o baterista em “Silent Nights”, Lês Moir o baixista em “We three Kings” e alguns outros apenas na programação dos sintetizadores, todos tocados pelo próprio Keith, claro.

O disco abre com variações para o tema tradicional “O Little Town of Bethlehem”. Boa e majestosa abertura. Todos os timbres característicos de Keith estão aqui, principalmente o virtuosístico solo de piano que alterna-se com os elemntos mais formais da canção e segue para um improviso mais jazzístico em (pseudo) trio com baixo e bateria, que destaca o andamento dessa valsa jazzística. “We Three Kings” é a segunda faixa, novamente com os timbres mais característicos de Keith. Nesse tema, dele e de Hopkins, destaca-se o baixo de Lês Moir, que com certeza foi escrito pelo tecladista, pois se parece muito com algo que ele tocaria. Um piano trio encerra em fade out a faixa, dando espaço para “Snowman’s Land”, do próprio Keith, com título sugerido pelo seu filho Damon. Peça pianística que por estar em um disco natalino, lembra o Natal, mas que poderia ser incluída em qualquer outro álbum. Como sempre, o toque orquestral dos diversos sintetizadores traz a marca do ELP. O Oratório de Natal de Bach, surge com sua “Ária” na quarta faixa e é bonito, como tudo que Bach fez, mesmo com a bateria eletrônica, que perdeu seu impacto com o passar dos anos. “Captain Starship Chistmas” já começa como uma boa promessa. Uma criança conta a história, um dos cantores do West Park School Choir. Nessa aqui a mixagem ficou muito estranha. Os sintetizadores solo ficaram muito baixos, para não embolarem com o coral, mas um pouco mais de trabalho na mesa de mixagem não era mal. Não sei se a outra versão desse álbum, com 12 faixas corrigiu esse e alguns outros problemas. A participação do coral é deliciosa e nem um pouco pieguas. Pecado do qual esse disco escapa por pouco. “I Saw Three Ships” tem ótimos timbres e uma introdução bem apropriada. O tema desenvolve-se de maneira regular sem muitas surpresas, mas aí está sua maior qualidade. Único pecado aqui é terminar mais uma vez em fade out, com o volume diminuindo aos poucos. “Petites Litanies de Jesus” de Gabriel Goroulez e arranjada por Keith é a sétima música. Bem suave, com um timbre não muito inovador, mas assim como Rick Wakeman, Keith não tem como característica timbres novos. Ele soa como Keith Emerson com naturalidade e a escolha das harmonias e vozes é o que nos faz sentir estarmos ouvindo um velho amigo contando suas histórias. “It Came Upon a Midnight Clear”, tema arranjado por Keith abre como uma pequena orquestra, com pizicatos, sinos e cordas para evoluir logo em seguida como um pequeno quarteto de cordas. Do meio para o fim, ao expor novamente o tema, as vozes se dividem pelo baixo e cordas. A última faixa é a conhecidíssima “Silent Night”, tocada ao piano no estilo “Keith Emerson toca Oscar Peterson” com a bateria do citado Scully e o coral The London Community Gospel. Uma tremenda covardia, porque as vozes e o tema são puro Natal. Em tempos de MP3 e downloads, essa seria a faixa pra baixar. Mas em tempos de MP3 e downloads, ela provavelmente seria creditada a outro e não ao Keith, pois ele está o mais “jazzy” possível, improvisando e brincando muito bem sobre o tema, em uma levada lenta, que propicia que o coral “chore”. O destaque aqui é pra evolução da voz solista (infelizmente não creditada) que aos poucos vai assumindo seu lugar à frente do coro, sem deixar o clima lento. Muito boa.

Como a maioria dos discos de Natal que ando ouvindo, principalmente nessa época do ano, esse não tem muita unidade. Os temas são irregulares e as interpretações mais ou menos inspiradas, mas como todos esses discos, o que vale é ouvir seu artista favorito em um ambiente completamente diferente do que estamos acostumados.

Só posso dizer uma coisa: Feliz Natal.
Nos vemos no próximo ano, por aqui mesmo ou por alguma publicação de papel pelas bancas.

Tudo de bom pra todos.

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