quinta-feira, 19 de abril de 2007

John Paul Jones – The Thunderthief

Jones fez parte do lendário LED ZEPPELIN como baixista e tecladista, mas antes que prossiga é melhor que você esqueça isso. Seus discos vão além de LZ. Talvez sejam os experimentos que não conseguiu fazer na época, como bem lembrou um amigo meu. Esse álbum é o seu segundo solo e muito, muito interessante.

A carreira de JPJ não começou com LZ. Com o cantor DONOVAN e a música "MELLOW YELLOW", ele recebeu um Disco de Ouro pelo arranjo. Também tocou e arranjou “HURDY GURDY MAN” de Donovan, que vem a ser um bom exemplo do trabalho pré LZ com a presença de JIMMY PAGE. Foi aqui que os dois decidiram sua própria “aventura musical”, o LED ZEPPELIN.

O que logo chama a atenção neste álbum é a extensa lista de instrumentos usados por Jones: baixos de 4, 6,10 e 12 cordas, guitarra, bandolins elétrico e baixo, piano, órgão, sintetizadores, koto (um instrumento milenar japonês) e mais uma série de artefatos. Felizmente na bateria, há TERL BRYANT (experiente músico e professor de teologia da LONDON SCHOOL OF THEOLOGY) e não uma daquelas maquininhas chatas muito em voga e mal utilizadas. Outras presenças são NICK BEGGS (do extinto KAJAGOOGOO) no CHAPMAN STICK, ADAM BOMB (guitarra) e o excelente ROBERT FRIPP, que participa logo na primeira faixa, que inicia com uma repetição levada pelo baixo e bateria que parecem aguardar a entrada do Senhor CRIMSON, com um demolidor solo de guitarra que já vale todo o disco.

A segunda faixa, que dá nome ao disco tem excelente presença do baixo, talvez com as frases mais rápidas gravadas até então, lembrando o que TONY LEVIN (PETER GABRIEL, etc) ou JOHN ENTWISTLE (THE WHO) nunca fizeram em estúdio. Único problema são os vocais de JONES, que retardam o clima opressivo, mas nada que não possa ser superado, pois o arranjo é primoroso, com um bom solo de guitarra do próprio Jones.

HOEDIDDLE, que vem em seguida é genial, incorporando o melodia e instrumentos do folk irlandês com o estilo e intensidade do metal. Abre apenas com a guitarra de Jones num diálogo consigo mesma em delays longos, até que um riff (confesso que tem semelhanças com JIMMY PAGE) repetido prepara para segunda parte, outro bom solo com delays que antecede uma melodia executada em uníssono por baixos e bandolins, com um forte acento celta, mas longe de ser algo da WORLD MUSIC, é apenas um dos ingredientes dos experimentos iniciados com o LED. A seguir, ICE FISHING AT NIGHT é uma lenta balada com um belo piano, letra de gosto duvidoso e um vocal que nos faz sentir saudades de ROBERT PLANT. DAPHNE abre com PAGE, perdão, JONES na guitarra novamente (mas bem podia ser o guitarrista do LED) e a melodia é exposta por sintetizadores com um leve toque de KEITH EMERSON (tirando o virtuosismo) dos primeiros discos do ELP. Semelhanças com os dois primeiros álbuns de JEFF BECK não são à toa, pois JONES estava lá.

ADAM BOMB abre a sexta faixa, ANGRY ANGRY, com um jeitão punk “caduco”. A voz de JONES é que dá esse toque um tanto envelhecido, pois lhe falta a garra ou o desespero “RAMONES”. Em todo caso, a música foi criada em torno do solo de ADAM, que se sentiu muito honrado em participar desse disco, conforme nos conta em seu site. Como já aconteceu antes nesse álbum, a faixa seguinte (DOWN TO THE RIVER TO PRAY) redime a anterior. Aqui o clima se acalma e volta a uma tradição mais folk, com violões e bandolins. É uma música folclórica arranjada por JONES e daquelas boas pra se ouvir em um dia ensolarado, um bom contraponto com o clima mais denso do album. SHIBUYA BOP retorna o clima pesado, com baixos sobrepostos que mostram toda a capacidade e inventividade de JONES. Aqui o KOTO é usado de uma forma muito pouco tradicional pra fazer intervenções ou BRIDGES. Há também um certo clima CRIMSONIANO (reminiscências de um KING CRIMSON do início dos anos 80 e as músicas instrumentais que fizeram em álbuns como DISCIPLINE) na justaposição das diversas frases e melodias. Um solo de órgão complementa o clima e dá um toque quase experimental. Sucessivas mudanças de andamento são reforçadas pela presença do STICK de NICK BEGGS, chegando a dificultar identificar quem toca o que. Grande faixa.

O álbum encerra com FREEDOM SONG, que parece mais “traditional” do que DOWN TO THE RIVER... Apenas koto (um instrumento japonês de três cordas) e voz. Aqui a voz encaixa no clima e lembra THE CHIEFTAINS, o que é sempre uma boa referência, já que o grupo é uma das principais vozes do folk inglês.

Álbuns de baixistas costumam ser reveladores, pois nos mostram até que ponto o músico é (ou era como no caso) “sufocado” ou renegado. Não creio que fosse o caso no LED, mas que aqui há muito mais espaço para uma sonoridade única e seu próprio som é indiscutível.
THE THUNDERTIEF é um álbum bem interessante, mas não é dos mais fáceis de se ouvir. Aqueles acostumados ao som pesado vão com certeza encontrar o que gostam e talvez pulem as faixas mais lentas, mas por baixo do peso, há um grande músico dando o melhor de si. Os saudosos do LED ZEPPELIN sentirão falta dos vocais de ROBERT PLANT, mas é só esquecer as origens do que se ouve e mergulhar no universo denso de JOHN PAUL JONES para apreciar esse ótimo trabalho, principalmente para os interessados na boa música que não se ouve nas rádios.

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