sexta-feira, 24 de agosto de 2007

John McLaughlin - Belo Horizonte

JOHN MC LAUGHLIN é um conhecido guitarrista que flertou com os mais diversos estilos, do jazz ao fusion, da música espanhola à indiana. O que poucos sabem é que sua esposa KATIA LABEQUE era a responsável pelos teclados dos discos e shows na década de 80.

BELO HORIZONTE é com certeza um disco que homenageia nossa terra, ou pelo menos uma de nossas cidades. Gravado em 1981 é da fase espanhola dele e traz a presença de dois tecladistas. Além da esposa, que toca piano acústico, FRANCOIS COUTURIER toca piano elétrico. Ambos dividem-se entre os sintetizadores, usados de uma forma sutil, quase orquestral, dando ao álbum uma sensação acústica. Os outros músicos são JEAN PAUL CELEA (baixo), FRANCOIS JEANNEAU (saxes), JEAN PIERRE DROUET e STEVE SHEMAN (percussão) e AUGUSTIN DUMAY (violino) e PACO DE LUCIA (violão).

O fato de o álbum ter sido gravado na França não parece ter influenciado o trabalho do JOHN, mas é clara a aproximação com o som brasileiro. A faixa de abertura é exatamente a que dá nome ao disco e mostra qual a intenção dessa banda liderada pelo irrequieto guitarrista, com os teclados funcionando como uma pequena orquestra e base para seu virtuosismo. ONE MELODY, pela introdução, poderia ser uma música brasileira, mas o andamento acelerado a aproxima das composições do guitarrista belga PHILIPE CATHERINE. Apesar de o destaque ser para o violão de JOHN e o sax de FRANCOIS, a presença dos dois tecladistas não pode deixar de ser notada em uma audição mais cuidadosa. Entretanto é WALTZ FOR KATIA o maior destaque do disco, com a presença do lírico violino de AUGUSTIN na exposição do tema e o intrincado improviso de KATIA, um pouco ao estilo de JOHN, mas mostrando que a pianista, de formação clássica, está perfeitamente à vontade no idioma jazzístico. A bela balada ZAMFIR é outra faixa onde se destaca um dos tecladistas, no caso, um solo de sintetizador de FRANCOIS, que evolui a partir da complementação de uma frase do sax e que é de uma sutileza sem par. O timbre é mais para anos 70 do que 80. Apesar de não constar da ficha técnica, é quase certo que o synth usado foi um ARP, ícone dos sintetizadores dos anos 70 ao lado do MOOG. O álbum encerra com um duo do líder com o espanhol PACO DE LUCIA, uma faixa em que me peguei imaginando em sua transcrição para piano solo.

Pois é, esse não é um disco fundamental para a discoteca dos tecladistas, mas muito interessante pra qualquer um que goste de música com sotaque espanhol e pra se apreciar o ótimo trabalho de KATIA LABEQUE e FRANCOIS COUTURIER.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Michel Camilo - Rhapsody In Blue

A música de George Gershwin marcou minha infância nos filmes da Sessão da Tarde e só depois fui descobrir que junto com seu irmão Ira Gershwin seu legado era incrível. De todas as suas músicas Rhapsody In Blue é a que mais me gosto. Talvez pela clarineta que antecipa o tema já na abertura ou pelos inúmeros desenhos animados em que ela foi usada. A Disney em “Fantasia 2000” a utilizou e dessa vez com o sentido mais próximo da intenção do compositor. Ela foi encomendada por Paul Whiteman para um concerto com sua orquestra, mas quando foi executada pela primeira vez não estava pronta e isso sempre me intrigou, porque tendo sido tocada pelo próprio George ao piano, sempre fiquei imaginando o quanto de improvisação não ocorreu naquele momento. Rhapsody foi composta como “a América (do Norte) vista de dentro de um trem”. Com isso em mente, fica claro que a clarineta da abertura poderia ser o apito do trem avisando aos passageiros da saída da composição da estação e para nós ouvintes o início de uma composição do mais alto nível. Entretanto, as interpretações clássicas sempre foram muito presas, as jazzísticas tinham mais frescor, apesar de fugirem constantemente da parte escrita.

Quando soube que Michel Camilo havia gravado esta rapsódia com orquestra, fiquei mais do que curioso. Todos os seus discos são excelentes e seu vigor nas interpretações é fantástico. Demorei pra ouvir, mas a espera foi muito recompensada, pois o disco é excelente. Credito como sendo esta a melhor interpretação desta obra até hoje. Uma interpretação não se faz apenas com o solista. A Orquestra Sinfônica de Barcelona regida por Ernest Martinez Izquierdo está soberba. A orquestra pulsa, balança, swinga, junto com Michel. A respiração de todos os músicos dá um novo tom à obra. Não se trata de uma releitura. A partitura é seguida, mas os tempos são como os que imaginava terem sido quando o próprio Gershwin executou-a pela primeira vez. A locomotiva inicia com a clarineta e vai aos poucos aumentando sua velocidade, diminui em alguns pontos e retoma o caminho como um ser vivo. A orquestra parece exatamente isso, outro músico e não um conjunto de músicos. Parece só um ser.

Ao final da audição fica uma sensação de que perdemos alguma coisa, senão a convivência com a genialidade com Gershwin, o fato de não termos presenciado tão magnífico trabalho pessoalmente. Como em todo concerto espetacular só nos resta aplaudir de pé e pedir bis.