Diapasão - Opus 1 - é praticamente o tecladista Rodrigo Lana, mas a rigor é um trio mineiro de rock progressivo com fortes influências de ELP, música clássica e toques de jazz. Formado por Rodrigo Lana (teclados), Gustavo Amaral (baixo e violão), Fabiano Moreira (bateria). Os teclados imperam durante todo o disco lembrando ora Rick Wakeman ora Keith Emerson. Mas não é um mero pastiche. Com clara influência clássica, eles contam com o apoio de Pedro Moreira (percussão), Ayran Oliveira (violinos) e Sergio Rabello (Cello) para criar um álbum criativo e muito interessante, com músicas longas, bem ao gosto dos progressivos, mas também com pequenas pérolas mais curtas. O álbum abre com a pomposa e longa DIAPASÃO, onde logo se percebe o talento de Rodrigo ao piano e sua capacidade inventiva, alternando timbres de cravo e cordas. Exatamente no cravo que nos vem à mente o mestre Wakeman, mas a divisão dessa música é bem diferente das composições deste. Logo após uma curta introdução, o piano assume a frente expondo uma nova melodia para aí sim prestar o que poderia muito bom ser um tributo ao citado mestre. Perto do fim ela se transforma em um tema típico do Emerson Lake & Palmer. No segundo tema, SOM DO BRASIL, Gustavo troca o baixo pelo violão pra expor uma bela e lírica melodia. São acompanhados pela percussão de Pedro Moreira. Sonata é uma música com toques clássicos como o título sugere. DO CÉU AO INFERNO continua no clima com a participação de um “quarteto” de cordas e FUGA apesar de seguir a mesma linha, com cravo e violão, funciona como uma introdução apara a poderosa NOITE A LA CAIPIRINHA, onde as lembranças da excelente banda alemã Triumvirat vêem à mente. JAZZ e PICCOLO FINALE iniciam ambas com o baixo de Gustavo e a última soa muito mesmo como um tributo a ELP, nas músicas como BENNY THE BOUNCE. As semelhanças indicadas aqui de maneira alguma desmerecem o álbum, pois estar perto dos mestres é algo extremamente difícil. Este belo álbum, com excelente material gráfico e lançado pela Masque Records, com certeza agradará aos fãs do rock progressivo e àqueles que querem expandir um pouco os seus horizontes musicais.
Aqui você lê o que Alex Saba escrevia para a coluna AUDIÓFILO da revista Teclado & Audio, mas agora você vai ler muito mais e não só sobre teclados. Aproveite. Boa leitura.
quinta-feira, 19 de abril de 2007
Evans, Evans, Evans & Evans
O pianista Bill Evans não é único, pelo menos no nome. Existem mais três. Em 1983 encontrei em uma loja de Copacabana (RJ), o LP ETUDES do RON CARTER com os seguintes músicos: BILL EVANS, ART FARMER e TONY WILLIAMS. Comprei o disco principalmente por causa do BILL. Mas não prestei atenção nas datas e só em casa percebi que não havia piano no disco - Evans faleceu em 1980. RON era o baixista, TONY o baterista, ART o trompetista e havia um saxofonista de nome BILL EVANS. THE PENGUIN GUIDE TO JAZZ, informa ser ele o terceiro BILL EVANS a usar esse nome. O segundo BILL EVANS (nascido em 1921) - sax, flauta, oboé e outros tantos além de vocal - adotou o nome muçulmano de YUSEF LATEEF, eliminando qualquer confusão entre ele e o pianista. A seguir uma pequena discografia de alguns desses BILLS.
BILL EVANS (3) nasceu em 1958 e integrou uma das muitas formações do grupo de MILES DAVIS. Trabalhou com JOHN MACLAUGHLIN e HERBIE HANCOCK. Seu timbre é quase uma combinação de PAUL DESMOND com MILES DAVIS, principalmente pela ausência de vibrato. Muito inventivo em seus solos, está mais para o fusion de MILES. Gravou alguns discos de ACID JAZZ, misturando jazz e RAP.
BILL EVANS (4) é um excelente banjoísta (se é que este mesmo o termo), bastante inventivo e criativo que toca “bluegrass”. Os instrumentos de seu disco NATIVE & FINE (ROUNDER CD 0295 – 1995) são banjo, rebeca, violão, baixo e tábua de lavar roupa como percussão, ou seja, bluegrass tradicional. Os músicos que o acompanham formam uma excelente banda de apoio ao solista. O CD vale a pena ser ouvido pelos que gostam do gênero ou não, porque a comparação com a música Celta é inevitável, já que o bluegrass é seu descendente direto no Novo Mundo.
BILL EVANS (2) ou YUSEF LATEEF tem álbuns muito interessantes, como YUSEF LATEEF’S LITTLE SYMPHONY (ATLANTIC 781757 - 1987) onde ele toca todos os instrumentos, HEART VISION (YAL 900CD – 1991) e METAMORPHOSIS (YAL 100CD – 1993) ambos pela sua própria gravadora, onde lançou 6 CDs e mantém plena atividade. Com a mudança de nome, possíveis confusões foram evitadas, mas foi por motivos religiosos. Não sei como seria se usasse seu nome de batismo, pois ambos são contemporâneos.
A capa do BILL EVANS (1) é do álbum SYMBIOSIS, composto, arranjado e conduzido pelo grande maestro CLAUS OGERMAN, um dos grandes arranjadores do jazz. Neste álbum com orquestra e trio, BILL dá mostras da sua incomparável competência. São ao todo cinco faixas abrangendo dois movimentos. Mais uma vez ele nos presenteou com um álbum essencial.
Keith Jarrett – The Carnegie Hall Concert
Existem discos que temos que ter por serem representativos de um determinado movimento, estilo ou artistas. Existem outros que temos que ter pelo seu próprio valor. “Keith Jarrett – The Carnegie Hall Concert” (2005/2006) com absoluta certeza encontra-se na segunda categoria. Jarrett é um artista único, polêmico em suas declarações e de talento indiscutível ao piano.
Este disco o traz em um dos seus contextos favoritos, o da improvisação solo, onde ele retoma uma prática comum do mundo clássico e recria de forma única a própria improvisação jazzística. Desde que fui atingido pelo seu “Köln Concert” de 1975, que fico estarrecido com sua criatividade e inventividade a cada novo lançamento. São vários seus álbuns seguindo esta linha, mas “The Carnegie Hall” é um dos melhores, não superando apenas o de Köln. Em uma antiga entrevista, Jarrett explica que procura limpar sua mente antes de sentar ao piano e provavelmente antes mesmo de entrar no palco. O que destaca esse disco dos outros são as melodias que são construídas, as vezes lentamente, outras vezes aparentemente do nada. Não é só uma. São várias. Ele pode lançá-las sobre um pulso constante de sua mão esquerda ou em um clima pastoral.
“Carnegie” é dividido em 15 faixas, ao contrário dos outros discos com penas duas ou quatro faixas. Desde que foi afetado por síndrome de fadiga crônica, ele teve que se reinventar. Substituiu suas longas performances por temas menores e com isso tornou-se muito mais acessível. As 10 primeiras são o próprio “Carnegie Hall Concert”. As cinco restantes são músicas suas, como “The Good América”, “My Song” e “Time on My Hands”. Jarrett é conhecido por exigir silêncio absoluto durante seus concertos e em sua apresentação solo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a platéia era “convidada” logo na entrada a desligar o bip dos relógios digitais da época, que apitavam irritantemente a cada hora. Hoje com os celulares o “convite” deve ser ainda mais rigoroso, mas é absolutamente imperdível o que este talentoso músico faz no palco e poder ouvir suas performances pelo mundo um raro prazer.
Este disco o traz em um dos seus contextos favoritos, o da improvisação solo, onde ele retoma uma prática comum do mundo clássico e recria de forma única a própria improvisação jazzística. Desde que fui atingido pelo seu “Köln Concert” de 1975, que fico estarrecido com sua criatividade e inventividade a cada novo lançamento. São vários seus álbuns seguindo esta linha, mas “The Carnegie Hall” é um dos melhores, não superando apenas o de Köln. Em uma antiga entrevista, Jarrett explica que procura limpar sua mente antes de sentar ao piano e provavelmente antes mesmo de entrar no palco. O que destaca esse disco dos outros são as melodias que são construídas, as vezes lentamente, outras vezes aparentemente do nada. Não é só uma. São várias. Ele pode lançá-las sobre um pulso constante de sua mão esquerda ou em um clima pastoral.
“Carnegie” é dividido em 15 faixas, ao contrário dos outros discos com penas duas ou quatro faixas. Desde que foi afetado por síndrome de fadiga crônica, ele teve que se reinventar. Substituiu suas longas performances por temas menores e com isso tornou-se muito mais acessível. As 10 primeiras são o próprio “Carnegie Hall Concert”. As cinco restantes são músicas suas, como “The Good América”, “My Song” e “Time on My Hands”. Jarrett é conhecido por exigir silêncio absoluto durante seus concertos e em sua apresentação solo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a platéia era “convidada” logo na entrada a desligar o bip dos relógios digitais da época, que apitavam irritantemente a cada hora. Hoje com os celulares o “convite” deve ser ainda mais rigoroso, mas é absolutamente imperdível o que este talentoso músico faz no palco e poder ouvir suas performances pelo mundo um raro prazer.
Tony Banks - Seven
Conhecido como o tecladista do Genesis, Tony Banks sempre foi fascinado pela idéia de escrever música orquestral. Cinco das sete partes desta Suíte Orchestral foram escritas especificamente para o projeto SEVEN. Durante os sete movimentos, Tony Banks cria retratos orquestrais intensos. A serenidade que caracteriza os temas principais é contrastada por momentos de incômoda turbulência, mas sempre com resultados bastante interessantes, o que o torna em seu melhor trabalho solo. Geralmente, o acusado pela banalização da música do Gênesis é o baterista/cantor Phil Collins, mas basta ouvir os trabalhos pop do baixista Mike Rutherford ou de Banks, para perceber que a saída do universo progressivo se tratou de uma decisão conjunta. Banks nunca teve problema em assumir um papel aparentemente secundário. Banks nunca foi dado aos holofotes como Keith Emerson e portanto não é de se estranhar que venha com algo não tão pianístico. Ambos são excelentes pianistas, talentosos tecladistas e grandes compositores, mas os estilos completamente diversos, Banks não é dado a muitos solos e isso se repete em SEVEN. Este é um álbum no qual Banks transcende seu passado e cria a música madura de Ralph Vaughn Williams e de Edward Elgar.
Os sete temas – como antecipa o nome do álbum - são executados pela London Philarmonic Orchestra e pelo tímido Tony Banks ao piano, sempre muito discreto, o piano como integrante da orquestra e não um solista frenético envolvido ou protegido pela orquestra. Em suas notas, Banks diz que no estúdio, o tempo que gastava com o Gênesis para ter ao menos os instrumentos prontos era o mesmo no qual os músicos da orquestra esperavam já terem gravada uma música de 20 minutos que eles nunca ouviram. Segundo ele isso foi algo inesperado e após gravar quatro músicas, resolveu fazer uma pausa e retornar melhor preparado, com outro orquestrador e mais apto a encarar a orquestra. Não é trabalho de um instrumentista, mas sim de um compositor maduro e isso pode frustrar algum fã mais ardoroso Um disco para quem gosta de música, pra quem é curioso ou pra quem é fã de Tony Banks.
Os sete temas – como antecipa o nome do álbum - são executados pela London Philarmonic Orchestra e pelo tímido Tony Banks ao piano, sempre muito discreto, o piano como integrante da orquestra e não um solista frenético envolvido ou protegido pela orquestra. Em suas notas, Banks diz que no estúdio, o tempo que gastava com o Gênesis para ter ao menos os instrumentos prontos era o mesmo no qual os músicos da orquestra esperavam já terem gravada uma música de 20 minutos que eles nunca ouviram. Segundo ele isso foi algo inesperado e após gravar quatro músicas, resolveu fazer uma pausa e retornar melhor preparado, com outro orquestrador e mais apto a encarar a orquestra. Não é trabalho de um instrumentista, mas sim de um compositor maduro e isso pode frustrar algum fã mais ardoroso Um disco para quem gosta de música, pra quem é curioso ou pra quem é fã de Tony Banks.
Chick Corea - Secret Agent
Esse álbum do Chick Corea demorou muito pra aparecer em CD. Essa versão praticamente recria a glória do som original. Chick Corea é um artista com uma extensa discografia. Quase toda, diria que 99% de altíssima qualidade. Não entendia porque um disco tão bom estava esquecido. Mas finalmente resolveram lança-lo. É um disco bastante eclético, como o próprio Chick e um item obrigatório pra qualquer apreciador do tecladista. Como diz no site do artista, poucas pedras “estilísticas ficam no mesmo lugar”. Aqui ele destila tudo o que sabe de rock progressivo, fusion, “bombastic esoteric funk” e seu sempre presente enfoque não convencional para a música latina. Músicas clássicas dele como "Slinky", "Fickle Funk" and "Central Park" além de participações especialíssimas de músicos como Al Jarreau, nosso Airto Moreira, Bunny Brunel, Gayle Moran (esposa, exímia tecladista e cantora). O disco soa muito bem, principalmente em passagens repletas de instrumentação variada como é o caso de “Central Park”. “The Golden Dawn” é a grande faixa de abertura e não poderia começar melhor, introduzindo o ouvinte ao universo sonoro da viagem que se seguirá. “Mirage” e “Bagatelle #4” – esta de Bella Bartok – são os momentos mais tranqüilos do disco, mas não menos carregados de emoção, excelentes duetos de Chick com Jim Pugh (trombone na primeira) e Gayle (vocais/coro na segunda). “Glebe St.Blues” é um blues em tempo rápido com ótima participação do naipe de metais, integrado pelo já citado Jim Pugh, Ron Moss, Bob Zottola, Al Vizzuti e o saudoso Joe Farrel, acrescidos de um quarteto de cordas que somente Chick Corea seria capaz de encaixar magistralmente em um arranjo. A faixa com Al Jarreau (“Hot News Blues”) é um blues lento cheio de surpresas. “Drifiting” é uma excelente composição perfeita para mostrar toda a qualidade de Gayle como vocalista. O disco fecha com Central Park. Mais que uma música é uma celebração à diversidade. As intervenções do quarteto de cordas são magistrais e o “duelo” com o trumpete de Al Vizzuti nos leva a concluir que ali o instrumento foi novamente redefinido. As notas agudas que ele aos poucos vai buscando – e achando – criam uma tensão realmente indescritível. Outro grande destaque é para o baixo de Bunny Brunel, excelente músico da escola de Jaco Pastorius, mas que assim como o mestre, tem um timbre muito particular em seu instrumento. Lançado originalmente no Japão está disponível agora no site do artista a um preço bem mais acessível.
Peter Baumann - Romance 76
Confesso que comprei esse LP mais pela capa do que pelo som. Estávamos em 1976 e o máximo de informação que conseguíamos era de que se tratava de um dos integrantes do Tangerine Dreams. Quando cheguei em casa e coloquei pra tocar tudo mudou. Enquanto era membro do grupo alemão, Peter Baumann lançou esse seu primeiro disco solo: Romance '76. Não é muito distante do som que o TD produzia na época, de fato há referências a Rubycon, Ricochet e Stratosfear aqui e ali – mas os arranjos de Baumann adicionaram clareza e direção. Em músicas como "Phase by Phase," o resultado é até circunspeto e abre muito espaço para uma atenção mais criteriosa pelo ouvinte. Mas no resto do álbum, encontramos Baumann com total controle sobre o que ele quer que o ouvinte ouça. Por exemplo, "Romance" introduz cuidadosamente novos sons, calculados com precisão para produzir os efeito desejado, um estilo que iria aparecer na produção de Baumann Grosses Wasser para Cluster. Esta e a faixa de abertura "Bicentennial Present" são típicas do que se produzia nos anos 70 como “música eletrônica”. A última especialmente parece com as melhores partes de "Stratosfear" destilada. Baumann mostra diferentes estilos de música eletrônica nas primeiras tres faixas, somente desafiando as expectativas do ouvinte com a semi-clássica "Meadow of Infinity." Onde misturou instrumentos orquestrais (cellos, vozes humanas, percussão) e eletrônicos, o compositor cria um poema sonoro usando apenas os sons necessários para descrever a ação. De muitas maneiras, "Meadow of Infinity" (junto com "The Glass Bridge," que conecta as duas partes) transcende o que Tangerine Dream era capaz de fazer, assumindo grande controle sobre a jornada do ouvinte do ponto A para o B, eliminando sons desnecessários. Claro que ouvintes atentos não se surpreenderão que Romance '76 é menos “cheio” do que os álbuns do Tangerine Dream desse período, mas isso é o que produz o mesmo efeito sem sequencers e camadas e mais camadas de sintetizadores. Definitivamente uma boa escolha para os fans do TD que pretendem alargar seus horizontes sem ficarem presos a faixas de 30m ou ao que se chamou depois de Euro-disco.
Gonzalo Rubalcaba - The Blessing
Gonzalo é um músico surpreendente. O primeiro disco que ouvi dele foi THE BLESSING, com Charlie Haden (baixo acústico) e Jack DeJohnette (bateria), dois músicos experientes dando seu aval ao pianista. Mas a grande surpresa foi ouvir um Gonzalo diferente do que comentavam sobre ele. Não estavam ali os ritmos cubanos rápidos. Era algo especial, mais para o toque delicado de Bill Evans, só que absurdamente lento e muito, muito bom. Ele literalmente “destrói”, “desmonta” com incrível naturalidade todos os temas que toca. Sua versão para BESAME MUCHO é fantástica, mas não ela não deve ser mostrada aos apreciadores do bolero tradicional. Gonzalo não tem a menor piedade em transformar o conhecido tema, muitas vezes interpretado de uma forma até apelativa, em algo novo e praticamente irreconhecível.
Quando Gonzalo improvisa, não há muita certeza de para onde ele irá. Ele segue seu próprio caminho e podemos ouvi-lo em sua plenitude em IMAGINE (de Lennon) ou GIANT STEPS (de Coltrane). Geralmente surpreende, seja com sua técnica ou com seu refinado bom gosto para colocar as notas certas nos lugares certos, sem abandonar, suas origens.
Gonzalo é um virtuoso. Mas sem efeitos pirotécnicos. Ele é contido. Reprime sua técnica em favor da composição, como Thelonius Monk. “Eu fico especialmente impressionado com a habilidade de Gonzalo em tocar uma balada” - palavras de Jack DeJohnette. “Todos se concentram nos elementos rítmicos da música Cubana. Eu penso que os aspectos melódicos e líricos que estou trabalhando são componentes igualmente importantes da personalidade latina e devem ser conhecidos.” - palavras do próprio Gonzalo, bem de acordo com o que se ouve.
Rubalcaba, ou melhor, Gonzalo Júlio Gonzales Fonseca Rubalcaba, estudou no Conservatório Amadeo Roldan e no Instituto de Belas Artes, ambos em Cuba. Desde 1980 vem excursionando pelo mundo e sendo descoberto por gente como o saudoso Dizzy Gillespie (com quem gravou GILLESPIE/GB EN VIVO pela Engrem), Winton Marsalis e muitos outros.
Yes - Fragile
FRAGILE é um álbum interessante. Começando pela ativa participação do co-produtor EDDIE OFFORD, famoso técnico de som dos anos 70, homenageado pelo Emerson Lake & Palmer com a música “Are You Ready Eddie?”. Sua participação fica clara logo na faixa de abertura, Roundabout, com o acorde de um piano soando ao contrário, invertido. Fazer isso em 1972 era muito trabalhoso. Por aí tem-se uma idéia do que foi investido nesse trabalho. Não se trata de um álbum qualquer. Foi pensado e repensado o bastante para se tornar o clássico que é hoje.
Cinco das nove faixas são solos, pouco habituais até hoje, de cada um dos integrantes e Cans And Brahms (arranjo de Rick Wakeman para o 3º movimento da 4ª Sinfonia de Brahns) um deles. Considerada por muitos um assassinato da obra de Brahns, tem o mérito apresentar a música clássica sem o didatismo em que normalmente é envolta. We Have Heaven é o “delírio” particular de Jon Anderson onde faz todas as vozes. Letra? Não existe. Apenas algumas palavras usadas para compor a cortina vocal. Tornou-se um clássico. Tanto quanto o barulho de porta se fechando e o de passos que antecedem South Side Of The Sky, que vem em seguida. Five Per Cent For Nothing é o baterista Bill Bruford em seu apogeu. Um tema de 16 compassos tocado duas vezes pelo grupo, que segue exatamente as complicadas divisões da bateria. Em The Fish é a vez de Cris Squire, com o discreto apoio de Brufors e Wakeman, mostrar seu lado inovador, usando o baixo para tocar todas as partes melódicas. Mood For A Day é Steve Howe sozinho ao violão. Uma bonita peça pseudoclássica que parecendo mais complexa do que é, soa bem em qualquer ocasião.
Heart Of The Sunrise é uma peça longa e mais pesada. “Climática” como quase tudo deles, mas que se escora no excelente baixo de Squire e na base de cordas de Wakeman. Em 1972 as guitarras me impressionavam mais, mas hoje minha atenção recai sobre Bruford, que com maestria dá toda a base com uma bateria discreta mas dificílima na introdução. Jon Anderson e a linha melódica surgem delicadamente mais como um por do Sol do que como nascer.
Como bônus, esse disco traz os excelentes desenhos de Roger Dean, responsável por todo o visual do grupo. Esta é mais um álbum básico em toda discoteca.
Cinco das nove faixas são solos, pouco habituais até hoje, de cada um dos integrantes e Cans And Brahms (arranjo de Rick Wakeman para o 3º movimento da 4ª Sinfonia de Brahns) um deles. Considerada por muitos um assassinato da obra de Brahns, tem o mérito apresentar a música clássica sem o didatismo em que normalmente é envolta. We Have Heaven é o “delírio” particular de Jon Anderson onde faz todas as vozes. Letra? Não existe. Apenas algumas palavras usadas para compor a cortina vocal. Tornou-se um clássico. Tanto quanto o barulho de porta se fechando e o de passos que antecedem South Side Of The Sky, que vem em seguida. Five Per Cent For Nothing é o baterista Bill Bruford em seu apogeu. Um tema de 16 compassos tocado duas vezes pelo grupo, que segue exatamente as complicadas divisões da bateria. Em The Fish é a vez de Cris Squire, com o discreto apoio de Brufors e Wakeman, mostrar seu lado inovador, usando o baixo para tocar todas as partes melódicas. Mood For A Day é Steve Howe sozinho ao violão. Uma bonita peça pseudoclássica que parecendo mais complexa do que é, soa bem em qualquer ocasião.
Heart Of The Sunrise é uma peça longa e mais pesada. “Climática” como quase tudo deles, mas que se escora no excelente baixo de Squire e na base de cordas de Wakeman. Em 1972 as guitarras me impressionavam mais, mas hoje minha atenção recai sobre Bruford, que com maestria dá toda a base com uma bateria discreta mas dificílima na introdução. Jon Anderson e a linha melódica surgem delicadamente mais como um por do Sol do que como nascer.
Como bônus, esse disco traz os excelentes desenhos de Roger Dean, responsável por todo o visual do grupo. Esta é mais um álbum básico em toda discoteca.
Laalo Schifrin - Marquise de Sade
O título deste disco de 1966 é: THE DISSECTION AND RECONSTRUCTION OF MUSIC FROM THE PAST AS PERFORMED BY THE INMATES OF LALO SCHIFRIN’S DEMENTED ENSEMBLE AS A TRIBUTE TO THE MEMORY OF THE MARQUIS DE SADE.
O álbum foi idealizado e produzido por Creed Taylor, que pouco mais tarde fundaria a prestigiosa CTI, para a Verve e gravado por Van Gelder, famoso engenheiro da Blue Note. Lalo criou um clássico ao fazer sua “adaptação” da música européia pré-clássica. Como diz no encarte: “o difícil de um projeto desses é a aparente não relação entre as antigas tradições e o novo enfoque musical”. The Blues For Johann Sebastian é uma prova de como ele se saiu bem. Dedicado à memória do filho mais novo de J.S.Bach, J.Gottfried Bernhard (1715-1739), é “uma tentativa de expressar o dramático lirismo da escola Barroca no formato de 12 compassos do blues”. Renaissance é peça baseada na progressão harmônica característica do período. Flauta, piano e guitarra improvisam sobre o tema tocado inicialmente pelo alaúde. The Wig é bem interessante, ainda mais sabendo que Lalo estava tentando compor enquanto ouvia Count Basie, Ramsey Lewis e Rolling Stones. Ele diz que o resultado final é chocante, mas é muito mais que isso. Beneath A Weeping Willow Shade é a transcrição de uma música de um dos primeiros compositores americanos, Francis Hopkinson (1737-1791) e o solo de flauta poderia muito bem ter sido tocado por Ian Anderson do Jethro Tull, mas é de Jerome Richardson. Lalo novamente nos diz sobre essa faixa que “mudei a melodia e a letra com o propósito de expressar minhas impressões sobre o bigode da Mona Lisa”. Versailles Promenade abre com o ineditismo do cravo improvisando em uma gravação de jazz. Grady Tate (bateria) e Richard Davis (baixo) compõe com Lalo o trio jazz-clássico. Lalo comenta que essa música “parte do charme e da elegância do período rococó; não há dúvida que este tipo de música foi a verdadeira causa da Revolução Francesa”. Troubadour tem Grady Tate arrasando sutilmente enquanto Lalo improvisa e os metais acentuam certas passagens. O improviso da flauta cita descaradamente música mexicana, enquanto a tônica são os poetas-cantores do século 12 e a sua versão contemporânea (em 1966) - os músicos de jazz.
MARQUIS DE SADE “é em memória (do próprio), um dos fundadores da moderna psicologia ao lado de Aeschylus, Shakespeare e Freud”. Lalo também disse: “eu imagino que esse era o tipo de melodia que ele murmurava durante suas alucinações”. Destaque para as intervenções do sax tenor de Ernie Royal. O álbum fecha com Bossa Antique, baseada em uma figura grave do tipo usada por Carl Phillip Emmanuel Bach. “Estou quase certo que essa seria a forma como ele teria escrito essa peça se tivesse tido oportunidade de visitar o Brasil com seu amigo Johann Joachim Eshenburg”.
Exageros à parte, que não passam de uma brincadeira de Lalo para descrever sua música, é um álbum imperdível. Em tempo: Lalo Schifrin é o autor do tema de Missão Impossível.
O álbum foi idealizado e produzido por Creed Taylor, que pouco mais tarde fundaria a prestigiosa CTI, para a Verve e gravado por Van Gelder, famoso engenheiro da Blue Note. Lalo criou um clássico ao fazer sua “adaptação” da música européia pré-clássica. Como diz no encarte: “o difícil de um projeto desses é a aparente não relação entre as antigas tradições e o novo enfoque musical”. The Blues For Johann Sebastian é uma prova de como ele se saiu bem. Dedicado à memória do filho mais novo de J.S.Bach, J.Gottfried Bernhard (1715-1739), é “uma tentativa de expressar o dramático lirismo da escola Barroca no formato de 12 compassos do blues”. Renaissance é peça baseada na progressão harmônica característica do período. Flauta, piano e guitarra improvisam sobre o tema tocado inicialmente pelo alaúde. The Wig é bem interessante, ainda mais sabendo que Lalo estava tentando compor enquanto ouvia Count Basie, Ramsey Lewis e Rolling Stones. Ele diz que o resultado final é chocante, mas é muito mais que isso. Beneath A Weeping Willow Shade é a transcrição de uma música de um dos primeiros compositores americanos, Francis Hopkinson (1737-1791) e o solo de flauta poderia muito bem ter sido tocado por Ian Anderson do Jethro Tull, mas é de Jerome Richardson. Lalo novamente nos diz sobre essa faixa que “mudei a melodia e a letra com o propósito de expressar minhas impressões sobre o bigode da Mona Lisa”. Versailles Promenade abre com o ineditismo do cravo improvisando em uma gravação de jazz. Grady Tate (bateria) e Richard Davis (baixo) compõe com Lalo o trio jazz-clássico. Lalo comenta que essa música “parte do charme e da elegância do período rococó; não há dúvida que este tipo de música foi a verdadeira causa da Revolução Francesa”. Troubadour tem Grady Tate arrasando sutilmente enquanto Lalo improvisa e os metais acentuam certas passagens. O improviso da flauta cita descaradamente música mexicana, enquanto a tônica são os poetas-cantores do século 12 e a sua versão contemporânea (em 1966) - os músicos de jazz.
MARQUIS DE SADE “é em memória (do próprio), um dos fundadores da moderna psicologia ao lado de Aeschylus, Shakespeare e Freud”. Lalo também disse: “eu imagino que esse era o tipo de melodia que ele murmurava durante suas alucinações”. Destaque para as intervenções do sax tenor de Ernie Royal. O álbum fecha com Bossa Antique, baseada em uma figura grave do tipo usada por Carl Phillip Emmanuel Bach. “Estou quase certo que essa seria a forma como ele teria escrito essa peça se tivesse tido oportunidade de visitar o Brasil com seu amigo Johann Joachim Eshenburg”.
Exageros à parte, que não passam de uma brincadeira de Lalo para descrever sua música, é um álbum imperdível. Em tempo: Lalo Schifrin é o autor do tema de Missão Impossível.
Joe Jackson - Heaven & Hell
Alguns anos atrás, na minha ignorância, Joe Jackson era apenas mais um cantor de um disco só. Night and Day continha o sucesso Steppin Out, exaustivamente tocada em 1982. Mas foi através desse disco que descobri um grande compositor, arranjador, multi-instrumentista de não apenas um, mas vários discos.
Busquei outros discos dele e não me arrependi. Diferentes entre si, mostram a evolução do compositor e arranjador. NIGHT MUSIC é uma pequena obra prima sem concessões. Qualidade de gravação excelente, músicas e arranjos ótimos, com uma instrumentação nada POP de violinos, piano, oboé e vocais clássicos, além da sua própria voz. Seu álbum seguinte foi HEAVEN & HELL (1997). Na mesma linha mas já definindo um estilo.
Este álbum trata dos sete pecados capitais. São oito faixas arrebatadoras (há uma introdução). A instrumentação segue a do anterior, com participação de vários convidados. O disco é creditado a JOE JACKSON & FRIENDS.
Curioso é que este disco foi lançado pelo selo SONY CLASSICAL. Uma tendência que vem aumentando da parte das gravadoras. John Lord do Deep Purple e Rick Wakeman também lançaram discos por selos clássicos. Iniciativa que aproxima um público não afeito à música clássica e serve para (re)educar toda uma geração de ouvintes de música.
No caso da Sony Classical, este álbum significa uma “pioneira” mudança de rumo. Peter Gelb, presidente da Sony Classical comentou: "Trabalhando com artistas como JJ, que transcendem gêneros, estamos tentando redefinir os objetivos de um selo clássico. Queremos voltar à idéia da música clássica como uma experiência emocional para o ouvinte. Usando músicos, de diversas formações, os quais ele sente que poderiam interpretar melhor suas idéias, JJ produziu um álbum onde, além de brilhantemente inventivo, irá atingir o lado emocional das pessoas.” O próprio JJ explica que as chamadas gravadoras “clássicas” estão hoje mais abertas do que as “pop”.
No site de JACKSON (http://www.joejackson.com/) é possível encontrar várias informações interessantes, inclusive uma declaração dele de haver se afastado da linha pop propositadamente, abdicando do sucesso que desfrutava, não estando mais disposto a “brigar” pelo sucesso ao lado de jovens de vinte anos. Corajoso.
Busquei outros discos dele e não me arrependi. Diferentes entre si, mostram a evolução do compositor e arranjador. NIGHT MUSIC é uma pequena obra prima sem concessões. Qualidade de gravação excelente, músicas e arranjos ótimos, com uma instrumentação nada POP de violinos, piano, oboé e vocais clássicos, além da sua própria voz. Seu álbum seguinte foi HEAVEN & HELL (1997). Na mesma linha mas já definindo um estilo.
Este álbum trata dos sete pecados capitais. São oito faixas arrebatadoras (há uma introdução). A instrumentação segue a do anterior, com participação de vários convidados. O disco é creditado a JOE JACKSON & FRIENDS.
Curioso é que este disco foi lançado pelo selo SONY CLASSICAL. Uma tendência que vem aumentando da parte das gravadoras. John Lord do Deep Purple e Rick Wakeman também lançaram discos por selos clássicos. Iniciativa que aproxima um público não afeito à música clássica e serve para (re)educar toda uma geração de ouvintes de música.
No caso da Sony Classical, este álbum significa uma “pioneira” mudança de rumo. Peter Gelb, presidente da Sony Classical comentou: "Trabalhando com artistas como JJ, que transcendem gêneros, estamos tentando redefinir os objetivos de um selo clássico. Queremos voltar à idéia da música clássica como uma experiência emocional para o ouvinte. Usando músicos, de diversas formações, os quais ele sente que poderiam interpretar melhor suas idéias, JJ produziu um álbum onde, além de brilhantemente inventivo, irá atingir o lado emocional das pessoas.” O próprio JJ explica que as chamadas gravadoras “clássicas” estão hoje mais abertas do que as “pop”.
No site de JACKSON (http://www.joejackson.com/) é possível encontrar várias informações interessantes, inclusive uma declaração dele de haver se afastado da linha pop propositadamente, abdicando do sucesso que desfrutava, não estando mais disposto a “brigar” pelo sucesso ao lado de jovens de vinte anos. Corajoso.
George Gruntz - Monsters Jazz
Bem no meio da década de 70, em 1975, descobri um álbum de um pianista alemão, chamado George Gruntz intitulado MONSTER JAZZ que tinha o sugestivo subtítulo de MONSTER STICKSLAND MEETING TWO. A lista dos instrumentos dá uma idéia do som: piano, baixo, tambores escoceses, bateria acústica, bateria “eletrônica” – em 1975 elas eram completamente diferentes do que são hoje - gaitas de fole, saxofones e pífanos. Mas o que me levou mesmo a pegar esse disco foi a presença do saxofonista Charlie Mariano, parceiro do guitarrista belga Philip Catherine.
Em 1975 ouvir isso soava muito estranho, um disco um pouco difícil, mas bonito. Hoje em dia nem se daria atenção a um lançamento desses, passando por mais um disco de World Music. O problema com essa “definição” é que os americanos, chamam tudo o que eles não entendem ou acham que é exótico de World Music. Basta dizer que por dois anos consecutivos o Grammy dessa categoria foi para brasileiros.
A boa World Music, é aquele em que há “dever de casa” ou no mínimo interação entre os músicos. Isso é exatamente o que se encontra nesse disco. A idéia de George Gruntz foi integrar a percussão, militar e civil escocesa com uma típica bateria jazzística e outra eletrificada. Foi mais além, integrou a banda de pífanos civil com a banda de gaita de foles militar e o quarteto de jazz.
Maestro, pesquisador e estudioso com vários livros publicados na Europa. Lamentavelmente não é citado nos livros americanos sobre jazz, salvo quando acompanhando algum americano.
Ele possui outros discos similares, infelizmente todos fora de catálogo. O primeiro MONSTER STICKSLAND MEETING era com percussionistas africanos, atualíssimo por sinal. Sua característica é de fazer arranjos de músicas tradicionais mesclando-as com o idioma jazístico. Um exemplo é uma música chamada FUDIWEGGLI - não tenho a menor idéia do significado – onde os pífanos, pequenas flautas comuns no Nordeste, executam a melodia junto com o grupo de jazz. Há também a tradicional WHISKEY ON THE ROCKS onde os pífanos são acompanhados pelas gaitas de fole do BASEL DRUM CORPS. Curioso o quase “guincho” que as gaitas dão ao não alcançarem as notas agudas dos pífanos.
Ao final da audição tem-se uma estranha sensação de familiaridade, afinal, ali estão os improvisos de piano e sax conhecidos do universo jazzístico, mas o arranjo e a interação deles com os instrumentos escoceses são tão perfeitos, que tudo soa absolutamente novo.
Em 1975 ouvir isso soava muito estranho, um disco um pouco difícil, mas bonito. Hoje em dia nem se daria atenção a um lançamento desses, passando por mais um disco de World Music. O problema com essa “definição” é que os americanos, chamam tudo o que eles não entendem ou acham que é exótico de World Music. Basta dizer que por dois anos consecutivos o Grammy dessa categoria foi para brasileiros.
A boa World Music, é aquele em que há “dever de casa” ou no mínimo interação entre os músicos. Isso é exatamente o que se encontra nesse disco. A idéia de George Gruntz foi integrar a percussão, militar e civil escocesa com uma típica bateria jazzística e outra eletrificada. Foi mais além, integrou a banda de pífanos civil com a banda de gaita de foles militar e o quarteto de jazz.
Maestro, pesquisador e estudioso com vários livros publicados na Europa. Lamentavelmente não é citado nos livros americanos sobre jazz, salvo quando acompanhando algum americano.
Ele possui outros discos similares, infelizmente todos fora de catálogo. O primeiro MONSTER STICKSLAND MEETING era com percussionistas africanos, atualíssimo por sinal. Sua característica é de fazer arranjos de músicas tradicionais mesclando-as com o idioma jazístico. Um exemplo é uma música chamada FUDIWEGGLI - não tenho a menor idéia do significado – onde os pífanos, pequenas flautas comuns no Nordeste, executam a melodia junto com o grupo de jazz. Há também a tradicional WHISKEY ON THE ROCKS onde os pífanos são acompanhados pelas gaitas de fole do BASEL DRUM CORPS. Curioso o quase “guincho” que as gaitas dão ao não alcançarem as notas agudas dos pífanos.
Ao final da audição tem-se uma estranha sensação de familiaridade, afinal, ali estão os improvisos de piano e sax conhecidos do universo jazzístico, mas o arranjo e a interação deles com os instrumentos escoceses são tão perfeitos, que tudo soa absolutamente novo.
Radamés Gnattali Sexteto
Em 1976, um amigo apareceu lá em casa com um disco (LP fique claro) que ele pegou emprestado na Biblioteca Tomas Jefferson. Ao contrário do que eu imaginava enquanto ele tirava o disco da sacola, não era de um artista americano, mas sim brasileiro. Tratava-se do álbum Radamés Gnatalli Sexteto. Era uma época em que o rock progressivo estava em seu apogeu e nós não éramos exceção aos jovens da época, mas gostávamos de explorar um pouco além e ouvir esse álbum foi um grato choque. Ali estava a música brasileira de qualidade, que não ouvíamos na rádio. Com quase 70 anos, Radamés foi o pianista, compositor e arranjador que mudou nossos conceitos e de muitos outros da minha geração. Ali não estava o chorinho como algo reverenciado, intocável. O que ouvíamos era música viva, como tem que ser, livre de modismos e pronta para ser a referência. Radmés Gnatalli Sexteto é um álbum que hoje não deixou de ser moderno e instigante. Esse músico, nascido na Porto Alegre de 1906, filho de imigrantes italianos, reuniu músicos da elite para formar o seu sexteto, a começar pelo multiinstrumentista de cordas José Menezes, o baixista Pedro Vidal Ramos, o baterista Luciano Perrone, Chiquinho do Acordeon e o pianista Laércio de Freitas. Os cincos primeiros eram integrantes do quinteto com o qual Radamés ajudou a criar o alto padrão orquestral que marcou a música brasileira nos tempos da Rádio Nacional por volta de 1930, mas foi com o sexteto, que ele viajou pela Europa, em 1960, deixando os europeus estupefatos com seus arranjos modernos para o choro. Quase duas décadas depois, dois adolescentes ficaram igualmente boquiabertos. Mas o mais curioso é que ouvir esse álbum três décadas depois do seu lançamento não deixa de causar surpresa. Ali estão músicas de Pixinguinha (1x0, Cochichando, Sofre porque queres), João de Barro (Urubu Malandro), Catulo da Paixão Cearense (Por um beijo), Luiz Bittencourt (Nova Ilusão) e do próprio Radamés (Meu amigo Tom Jobim e Divertimento para seis instrumentos). Nessas composições, o grupo de instrumentistas mostra uma incrível versatilidade e o uso de dois pianos, é algo primoroso. Infelizmente, um sistema para proteger o disco contra pirataria, dificulta sua execução em alguns “players”, mas não invalida a grandeza da obra de Radamés Gnatalli e a obrigatoriedade deste disco em qualquer coleção que se preze.
Patrick Moraz - I
PATRICK MORAZ visitou o Brasil em 1975 e ficou encantado com os percussionistas brasileiros. O suíço antecedeu muita gente boa que veio na mesma onda e o próprio movimento de WORLD MUSIC (que vocês sabem que começou com PAUL HORN tocando flauta dentro do THAJ MAHAL). Foi mais do que encanto. Ele saiu daqui com uma fita embaixo do braço, gravada em 16 e 17 de Agosto do mesmo ano. Levou essa fita prá casa, sentou no estúdio construindo música em torno das bases de percussão e piano gravadas no Rio. O resultado é I (CHARISMA RECORDS JAPAN, 1976, VJCP-2544), álbum conceitual que descreve a (alucinada) estória de um edifício no meio da Selva Amazônica onde as pessoas iam para desfrutar todo tipo de prazeres, subindo os andares do prédio até chegarem no topo, onde pulavam de mãos dadas e desintegravam-se antes de se atingirem o chão. A história é bem condizente com o espírito megalomaníaco de PM, mas a louca combinação de percussão, teclados, e outros instrumento, soa perfeitamente coerente. O músico conseguiu encaixar a percussão brasileira como poucos.
O álbum abre com uma cortina de sintetizadores e... Caixa de fósforo, seguida de berimbau, tamborins, surdos, repique, frigideira, ganzá, pandeiro, mais sintetizadores, agogô, cuíca e bateria. Inacreditável. É o verdadeiro Samba do Suíço Doido. Além dos “Percussionistas do Rio de Janeiro”, tem um time de primeira tocando com ele: JEFF BERLIM (baixos) RAY GOMEZ (guitarras) ALPHONZE MOUZON e ANDY NEWMARK (bateria) e JOHN MCBURNIE e VIVIENNE MCAULIFE (vocais).
O suíço misturou música clássica, samba, ponto de macumba, de capoeira; fez baião chamado CACHAÇA, colocou música romântica (afinal é uma história de amor) no meio e ficou bom.
Uma das melhores músicas é INTERMEZZO, algo pseudobarroco, onde os vocais fazem um bonito contraponto; francês do lado esquerdo e inglês do direito. São duas letras ao mesmo tempo, evoluindo para um piano rocambolesco, seguido de uma parte espanhola e uma com “toda a orquestra”, onde baixo, bateria, sintetizadores (MINI MOOGS, ARPS, etc) antecedem INDOORS, que tem uma boa “batalha” entre guitarra e MINI MOOG, que por sua vez antecede outra entre ARP (direita) e MOOG (esquerda), com divisões em crescendo de 7/8, 10/8, 13/8, 14/8 e “etc”. Quando as coisas se acalmam chega o momento romântico de BEST YEARS OF OUR LIVES.
O então lado dois começa com outra cortina de sintetizadores em DESCENT e aparece novamente a percussão em INCANTATION-PROCESSION “uma cerimônia de funeral na selva. Um canto de macumba é ouvido vindo do fundo” (a estória é confusa, mas a música excelente). Em DANCING NOW, ele continua a salada, com tamborins, agogo, bateria e piano: “uma das faixas gravada ao vivo no Brasil em um único take”. IMPRESSIONS é uma mistura de temas, que me soa como um improviso de piano. Aí temos outra música romântica com piano, baixo e bateria. RISE AND FALL é o princípio do fim, com bom solo de guitarra sobre a base de percussão até o tal salto de mãos dadas. O fim é SYMPHONY IN THE SPACE, um bonito tema que lembra um pouco o grego VANGELIS.
Parece louco? E é. Este é daqueles álbuns pra se ter em casa, e mostrar pros amigos, ainda mais que agora, passados 30 anos do seu lançamento, ele não ficou datado.
Parabéns ao suíço, que chegou a gravar outro disco (OUT OF THE SUN - CHARISMA 1977) com brasileiros, mas não tão bem resolvido como este.
O álbum abre com uma cortina de sintetizadores e... Caixa de fósforo, seguida de berimbau, tamborins, surdos, repique, frigideira, ganzá, pandeiro, mais sintetizadores, agogô, cuíca e bateria. Inacreditável. É o verdadeiro Samba do Suíço Doido. Além dos “Percussionistas do Rio de Janeiro”, tem um time de primeira tocando com ele: JEFF BERLIM (baixos) RAY GOMEZ (guitarras) ALPHONZE MOUZON e ANDY NEWMARK (bateria) e JOHN MCBURNIE e VIVIENNE MCAULIFE (vocais).
O suíço misturou música clássica, samba, ponto de macumba, de capoeira; fez baião chamado CACHAÇA, colocou música romântica (afinal é uma história de amor) no meio e ficou bom.
Uma das melhores músicas é INTERMEZZO, algo pseudobarroco, onde os vocais fazem um bonito contraponto; francês do lado esquerdo e inglês do direito. São duas letras ao mesmo tempo, evoluindo para um piano rocambolesco, seguido de uma parte espanhola e uma com “toda a orquestra”, onde baixo, bateria, sintetizadores (MINI MOOGS, ARPS, etc) antecedem INDOORS, que tem uma boa “batalha” entre guitarra e MINI MOOG, que por sua vez antecede outra entre ARP (direita) e MOOG (esquerda), com divisões em crescendo de 7/8, 10/8, 13/8, 14/8 e “etc”. Quando as coisas se acalmam chega o momento romântico de BEST YEARS OF OUR LIVES.
O então lado dois começa com outra cortina de sintetizadores em DESCENT e aparece novamente a percussão em INCANTATION-PROCESSION “uma cerimônia de funeral na selva. Um canto de macumba é ouvido vindo do fundo” (a estória é confusa, mas a música excelente). Em DANCING NOW, ele continua a salada, com tamborins, agogo, bateria e piano: “uma das faixas gravada ao vivo no Brasil em um único take”. IMPRESSIONS é uma mistura de temas, que me soa como um improviso de piano. Aí temos outra música romântica com piano, baixo e bateria. RISE AND FALL é o princípio do fim, com bom solo de guitarra sobre a base de percussão até o tal salto de mãos dadas. O fim é SYMPHONY IN THE SPACE, um bonito tema que lembra um pouco o grego VANGELIS.
Parece louco? E é. Este é daqueles álbuns pra se ter em casa, e mostrar pros amigos, ainda mais que agora, passados 30 anos do seu lançamento, ele não ficou datado.
Parabéns ao suíço, que chegou a gravar outro disco (OUT OF THE SUN - CHARISMA 1977) com brasileiros, mas não tão bem resolvido como este.
Renaissant – South of Winter
Lendo rápido, você meu leitor pode achar que errei o nome da banda, principalmente se fosse possível você ouvir o som que está tocando aqui nas caixas do estúdio. É o mais puro RENAISSANCE, com toda sua típica delicadeza e suavidade melódica. O pianista na primeira faixa é JOH TOUT. Ué, mas esse era o pianista/tecladista do RENAISSANCE. Se eu disser que o baterista é TERENCE SULLIVAN você então vai ter certeza de que há algo errado. Porém não há nada de estranho. Trata-se da última e bem vinda excursão musical do baterista TERENCE SULLIVAN, membro original do RENAISSANCE desde o álbum PROLOGUE. Em SOUTH OF WINTER, com uma belíssima capa, ele retornar ao espírito do RENAISSANCE muito bem acompanhado. Além da participação especial de JOHN TOUT em 4 das 9 faixas, estão sua esposa e filhos. Conversando por email com LEE SULLIVAN, tecladista, produtor e filho de TERENCE, ele me contou que se tratava apenas de reunir as pessoas com mais empatia para fazer este tipo de trabalho e neste ponto TERENCE acertou em cheio. O álbum chega a ser melhor do que algumas reedições da própria banda e as comparações são inevitáveis, mas só contando a favor. Isso parece se dever ao sangue novo dos filhos: LEE (tecladista, produtor e engenheiro), KRISTIAN (violões e guitarras) e DERRICK (baixo). Além dos vocais de CHRISTINE SULLIVAN, esposa de TERENCE, que não é ANNIE HASLAM, mas também é uma excelente cantora. Mas o que mais chama atenção é que LEE está imbuído do espírito de JOHN TOUT e mostra-se um discípulo à altura. Cheguei a ficar sem saber quem tocava, tanto que consultar o encarte várias vezes. O trabalho dele ao piano e teclados é impecável, principalmente quando se trata de simular os instrumentos orquestrais tão familiares aos fãs do RENAISSANCE. Uma das faixas que merece destaque é COLD FLAME, onde TERENCE demonstra versatilidade tocando bateria, percussão, violão, teclados e cantando. Bem, sua voz não é nada demais, mas se inclui na categoria musical dos músicos que cantam (onde incluo sempre nosso JOBIM). Há um leve toque oriental e inteligentes guitarras de KRISTIAN, com um timbre atual e não presente no trabalho do RENAISSANCE. Mas esse disco serve principalmente como uma aula do bom uso de teclados emulando uma orquestra. A bateria de TERENCE é sempre um destaque pela leveza e pela capacidade de deixar a música fluir. Não se trata do álbum de um baterista, nem tão pouco é alguém tentando fazer um som semelhante a outro, pois TERENCE também era um dos responsáveis pelo som do RENAISSANCE, que em seus últimos álbuns não mostrava o mesmo frescor de antes, algo compreensível para uma banda tão antiga, mas que ressurge aqui, com outros músicos e a mesma proposta. “Papai” TERENCE deve estar orgulhoso, porque essa sua cria promete muito e com certeza este é o melhor álbum de família que já escutei nos últimos anos.
Tempus Fugit - Tales from
TEMPUS FUGIT significa muita coisa, mas é o nome de um grupo rock carioca com boa experiência de estrada. Formado em XXXX já lançou dois ótimos discos. Em uma entrevista com o tecladista André Mello, ele revelou que o segundo é o favorito da banda, por ser mais maduro, mas quando um grupo acerta no primeiro álbum, fica difícil não falar dele. Este é o caso do TF. O grupo é formado pelo André Mello (teclados, voz e vocais), Ary Moura (bateria e percussão), Bernard (baixo,narração e vocais) e Henrique Simões (guitarras, violões, cavaquinho, bandolim e vocais) e o álbum chama-se “Tales from a forgotten world”. É necessário comentar que o trabalho gráfico, a cargo do Bernard, é primoroso. Ele é um dos nossos grandes artistas gráficos e suas capas, em livros ou CDs, são maravilhosas. Bem, findo este “parêntese” tratemos das músicas. O álbum abre com PROLOGUE, onde Bernard faz uma narração bem ao estilo do grupo Mood Blues, com os teclados criando todo o clima para esta abertura que traz referencias de outro grande nome do rock: Rick Wakeman. A segunda faixa mostra um excelente trabalho do guitarrista Henrique e que André não é só um tecladista, mas também um exímio pianista, algo um tanto raro nesses nossos tempos de arranjadores e tecladistas que só sabem usar uma mão. Mas se André toca piano com as duas mãos, quando ele precisa só de uma delas pra desenvolver linhas melódicas em seus sintetizadores, o grupo só tem a ganhar (e nós ouvintes também). Na terceira faixa, é onde isso é bem claro. Mas há o excelente violão clássico do Henrique, preparando o clima para a segunda parte, quando Bernard e Ary aparecerão com força total. Bernard é de uma discrição surpreendente, nesses tempos em que os membros de uma banda não se conformam em desempenhar seu papel. Discrição, segurança e presença, seriam adjetivos adequados pra descrever sua participação. Ary, é um ótimo destaque, por ser capaz de alternar momentos de intenso ritmo com passagens sublinhadas apenas discretamente. Tentei definir se TEMPUS FUGIT era um grupo dominado por teclados ou por guitarras, mas não consegui, pois enquanto ele tem muitas passagens que emocionam os fãs do rock sinfônico ou progressivo, as guitarras de Henrique, aliadas ao vigor da “cozinha” de Bernard e Ary coloca o TEMPUS FUGIT em mais de uma categoria do velho e bom rock’n roll. O que é certo é que o som desta banda é muito superior a muita coisa que se ouve por aí. Ao lado da QUATERNA REQUIEN (já comentado aqui) e de algumas outras bandas nacionais que ainda vou apresentar a você, a TEMPUS FUGIT é daquelas que merece um maior espaço no coração de todos nós, porque, convenhamos, não é fácil fazer música de qualidade nesse país.
Paul Desmond – Bridge Over Troubled Water
PAUL DESMOND é um raro músico. Por muitos anos foi ¼ do DAVE BRUBECK QAURTET e não como mero coadjuvante, não só porque o DBQ era um quarteto sem coadjuvantes, mas porque ele era o segundo compositor do grupo e responsável pelo primeiro tema jazzístico a bater recordes nas rádios mundiais. Como se pode imaginar, havia muito mais por trás do seu sopro tranqüilo e do seu jeito mais do que cool de ser. Em tempos em que música tranqüila é confundida com “música pra ver nascer grama”, vale à pena conferir este disco de PAUL DESMOND todo com canções de PAUL SIMON. O álbum BRIDGE OVER TROUBLED WATER, lançado originalmente em 1969, não sofreu em nada com a passagem dos anos. Os músicos que acompanham o sax alto de DESMOND são os mesmos que o acompanhavam nos anos anteriores no selo CTI de CREED TAYLOR. Grandes nomes como HERBIE HANCOCK (piano elétrico), RON CARTER (baixo acústico), JERRY JEMONT (baixo elétrico) além dos brasileiros AIRTO MOREIRA e JOÃO PALMA (bateria) executam os sofisticados arranjos de DON SEBESKY, que também produziu o álbum.
Todos os grandes sucessos de SIMON & GARFUNKEL estão presentes - bem, há muita música boa não incluída e talvez fosse melhor dizer o álbum apresenta o que há de mais representativo da dupla de cantores/compositores.
OLD FRIENDS, parece ser o veículo perfeito para o lirismo de DESMOND e de SEBESKY, até que ouvimos os primeiros compassos de AMERICA e SCARBOROUGH FAIR. Nesses temas, mesmo em seus improvisos, ou talvez principalmente neles, PAUL DESMOND parece estar conversando conosco, contando alguma de suas histórias. Muito provavelmente, o fato de querer ser um escritor, influenciou seu modo de tocar, não o lado lírico, mas o descritivo. Mesmo sem ser um cantor, é um excelente intérprete. DEXTER GORDON certa vez comentou que para tocar uma balada é fundamental lembrar da letra das músicas. PAUL DESMOND parece ir além da lembrança, nos mostra como é possível reescrevê-las e isso tudo sem dizer uma palavra.
Infelizmente esse lindo álbum só está disponível em versão japonesa, mas pode ser encomendado em várias lojas on-line disponíveis na rede.
Todos os grandes sucessos de SIMON & GARFUNKEL estão presentes - bem, há muita música boa não incluída e talvez fosse melhor dizer o álbum apresenta o que há de mais representativo da dupla de cantores/compositores.
OLD FRIENDS, parece ser o veículo perfeito para o lirismo de DESMOND e de SEBESKY, até que ouvimos os primeiros compassos de AMERICA e SCARBOROUGH FAIR. Nesses temas, mesmo em seus improvisos, ou talvez principalmente neles, PAUL DESMOND parece estar conversando conosco, contando alguma de suas histórias. Muito provavelmente, o fato de querer ser um escritor, influenciou seu modo de tocar, não o lado lírico, mas o descritivo. Mesmo sem ser um cantor, é um excelente intérprete. DEXTER GORDON certa vez comentou que para tocar uma balada é fundamental lembrar da letra das músicas. PAUL DESMOND parece ir além da lembrança, nos mostra como é possível reescrevê-las e isso tudo sem dizer uma palavra.
Infelizmente esse lindo álbum só está disponível em versão japonesa, mas pode ser encomendado em várias lojas on-line disponíveis na rede.
Simphonic Holocaust - Morte Macabre
O título é sinistro: SIMPHONIC HOLOCAUST - MORTE MACABRE, mas o som é especial. É um projeto desenvolvido com membros das bandas progressivas suecas ANEKDOTEN e LANDBERK sobre temas de filmes de horror italianos além do tema de ROSEMARY BABY de ROMAN PLANSKY. Uma nota informa que: “O projeto tornou-se um tal sucesso musical que eles decidiram lançar um álbum inteiro. As gravações foram feitas no STUDIO LARGEN em duas diferentes ocasiões e SYMPHONIC HOLOCAUST foi finalmente lançado em 26 de Outubro de 1998”.
O CD foi lançado também em LP duplo, com uma faixa extra, tal a procura. Os fãs das bandas GOBLIN, ANEKDOTEN e LANDBERK com certeza foram os maiores incentivadores do projeto e responsáveis pela divulgação boca-a-boca. Um álbum essencial do rock progressivo e inacreditável.
É até difícil descrever o som da banda. REINE FISKE é um dos mais amados guitarristas de progressivo moderno. O modo como ele toca é capaz de levar qualquer um às lágrimas, algo que até então só parecia possível ao som de outros dois grandes guitarristas: STEVE HACKETT (ex-GENESIS) e ROBERT FRIPP (KING CRIMSON), só que RF tem um som absolutamente próprio, que dificilmente você já terá ouvido. Uma grande característica em tempos de imitações intermináveis e sem graça.
Como um todo, o álbum MORTE MACABRE soa muito semelhante ao CD EPILOG do ANGLAGARD com a guitarra em um estilo que poderíamos classificar como fulminante. Entretanto, simplesmente não para aí. Há também algumas passagens do tipo TALK TALK e uma incrível “viagem ambiental” a-la BARK PSYCHOSIS.
Fora isso tudo é um álbum de tirar o fôlego. Poucas vezes as bandas de rock progressivo atuais conseguiram um resultado tão impressionante. Se você é fã do rock progressivo, este álbum é para você, mas se o seu gosto recai em trilhas de filmes, esta também é uma boa indicação, não só por ser baseado em filmes de terror, mas porque as músicas não são simples veículos para demonstrações pirotécnicas de virtuosismo, mas verdadeiros temas que poderiam muito bem terem sido incluídas em qualquer trilha de filme de suspense.
É um álbum para se ouvir em uma noite fria, de baixo de um cobertor, com todas as luzes apagadas. O resultado é arrepiante. Um excelente álbum do progressivo moderno.
O CD foi lançado também em LP duplo, com uma faixa extra, tal a procura. Os fãs das bandas GOBLIN, ANEKDOTEN e LANDBERK com certeza foram os maiores incentivadores do projeto e responsáveis pela divulgação boca-a-boca. Um álbum essencial do rock progressivo e inacreditável.
É até difícil descrever o som da banda. REINE FISKE é um dos mais amados guitarristas de progressivo moderno. O modo como ele toca é capaz de levar qualquer um às lágrimas, algo que até então só parecia possível ao som de outros dois grandes guitarristas: STEVE HACKETT (ex-GENESIS) e ROBERT FRIPP (KING CRIMSON), só que RF tem um som absolutamente próprio, que dificilmente você já terá ouvido. Uma grande característica em tempos de imitações intermináveis e sem graça.
Como um todo, o álbum MORTE MACABRE soa muito semelhante ao CD EPILOG do ANGLAGARD com a guitarra em um estilo que poderíamos classificar como fulminante. Entretanto, simplesmente não para aí. Há também algumas passagens do tipo TALK TALK e uma incrível “viagem ambiental” a-la BARK PSYCHOSIS.
Fora isso tudo é um álbum de tirar o fôlego. Poucas vezes as bandas de rock progressivo atuais conseguiram um resultado tão impressionante. Se você é fã do rock progressivo, este álbum é para você, mas se o seu gosto recai em trilhas de filmes, esta também é uma boa indicação, não só por ser baseado em filmes de terror, mas porque as músicas não são simples veículos para demonstrações pirotécnicas de virtuosismo, mas verdadeiros temas que poderiam muito bem terem sido incluídas em qualquer trilha de filme de suspense.
É um álbum para se ouvir em uma noite fria, de baixo de um cobertor, com todas as luzes apagadas. O resultado é arrepiante. Um excelente álbum do progressivo moderno.
Mauro Pagani – Domani
O melhor disco do ano. Essa é uma frase muito arriscada e nem gosto de usa-la, mas o álbum DOMANI do italiano MAURO PAGANI bem que merecia ganhar o premio (se houvesse). Conheci PAGANI nos anos 70 quando ele tocava com a banda PREMIATA FORNERIA MARCONI (com show marcado para Julho no Brasil) como flautista, violinista e letrista. Talvez a mais importantes bandas progressivas italianas, PFM era conhecida pelos grandes momentos de lirismo e o virtuosismo de seus integrantes. Quando saiu do grupo, fez muita falta, mas havia uma carreira solo e outros interesses, como trilhas para diversos filmes italianos. Em seu primeiro disco solo, PAGANI (o disco e o músico) flertava com a música de outras regiões, algo que só muitos anos depois seria conhecido como WORLD MUSIC. DOMANI é uma pequena jóia, pois traz todas as influencias de PAGANI, integradas e amadurecidas. Há um pouco de tudo, sem a menor perda de unidade e com a feliz capacidade de soar incrivelmente novo. Esqueça as tradicionais músicas italianas, os estereótipos dos risonhos e gordos cantores e dos pratos de macarrão. PAGANI traz suas influencias do Mediterrâneo e das diferentes culturas que o compartilham. O instrumental é enxuto e bastante variado: quarteto de cordas, guitarras, flautas, sintetizadores, batidas eletrônicas e percussão alternam-se com maestria. As músicas variam de tristes baladas a sutis arranjos eletrônicos. Tudo com tanto bom gosto, tanta precisão, como há muito não encontro no tanto que ouço. Acompanho a carreira de MAURO PAGANI, desde sua saída do PFM, com alguma dificuldade, pois seus discos não são fáceis de serem encontrados. Todo amigo que viaja para Europa acaba incumbido de me trazer algum disco e foi assim que DOMANI chegou às minhas mãos. Esse é um daqueles discos que se ouve à exaustão. São muitos detalhes em cada música. A voz de PAGANI está mais rouca e mais dramática (nada de dramaticidade operística). Inicialmente senti falta do seu violino, mas ao longo de várias audições, o disco cresce tanto que não se nota sua ausência. Cada música encerra um pequeno universo e fica muito difícil destacar uma em detrimento de outra. Trata-se de um álbum pra ouvir muitas e muitas vezes, de preferência com um bom vinho italiano. Com DOMANI, PAGANI mostrou definitivamente que é um dos grandes artistas – infelizmente - quase desconhecidos que povoam nosso planeta.
Phil Collins – A Hot Night in Paris
Eis um compositor que virou sucesso mundial, depois de percorrer o caminho da Fusion e do Rock Progressivo. Ele tem a fórmula para compor, escreve letras simples que o público gosta, apresenta-se como se estivesse tocando em um pequeno night-club, vende bem, faz grana e... Com tudo isso poderia continuar nisso, mas eis que inventou a THE PHIL COLLINS BIG BAND. Pra que? Porque? No encarte PC explica:
“Foi em 1966 quando ouvi BUDDY RICH SWINGING NEW BIG BAND. Todas as outras coisas que eu estava ouvindo nessa época tiveram que dar espaço a este maravilhoso ruído que eu tinha descoberto. Eu saí procurando por mais e descobri COUNT BASIE WITH SONNY PAYNE, HAROLD JONES AND JO JONES, DUKE ELLINGTON, e muitos mais. Eu decidi que um dia eu iria formar minha própria Big Band. Trinta anos depois eu consegui. Em 1996 excursionei com QUINCY JONES conduzindo e TONY BENNETT como nosso vocalista convidado, e minha banda! (...) Para mim é um prazer, estou de volta ao meu lugar, atrás da bateria, tocando música. Eu espero que ela mexa com você como faz comigo. Se fizer, venha nos ver algum dia”.
A faixa de abertura é SUSSUDIO uma daquelas coisas animadinhas com arranjos de metais que ele fazia e estremecia os fãs mais radicais do GENESIS. Ela abre com bateria e percussão dando o clima do que é uma Big Band liderada por um baterista. A seguinte é THAT’S ALL, irreconhecível na introdução. Na exposição do tema pelos metais, mais rápido que o original, é que se descobre qual é. Collins conduz no RIDE, em um estilo mais GENE KRUPA do que BUDDY RICH, mas sai-se bem.
INVISIBLE TOUCH foi completamente transformada pelo arranjo de SAMMY NESTICO e HOLD ON MY HEART começa lentamente com metais e baixo, prenunciando a lenta balada que está por vir. Segue-se CHIPS & SALSA, música do saxofonista GERAL ALBRIGHT arranjada por ele e HARRY KIM. Essa música desperta a platéia que acompanha com palmas. A sexta faixa é I DON’T CARE ANYMORE. A introdução é legal, mas o tema não funciona bem. A melodia é claramente para ser cantada.
A essa altura do disco surge MILESTONES do príncipe negro MILES DAVIS. AGAINST ALL ODDS é outra do band leader PC, seguida por PICK UP THE PIECES, com 12:09 de duração, que conta com a participação de convidados: JAMES CARTER (sax tenor) GEORGE DUKE (piano) e ARIF MARTIN (arranjador e maestro). Finalmente “is show time”. A orquestra SWINGA bastante, apesar de estranhamente o líder manter uma batida mais reta e menos quebrada, coisa que ele fazia bem tanto no BRAND-X quanto no GENESIS. Mas temos com o que nos divertir aqui e podemos deixa-lo de lado. A última é THE LOS ENDOS SUITE. Começa com um dueto de percussão e bateria. A entrada dos metais no tema, arranca aplausos da platéia. Intervenções latinas da orquestra fazem uma bela introdução para a mudança do clima, que começa com um belo rufo de PC e a repetição do tema pelos metais até tudo explodir no solo do fiel escudeiro: DARYL STUERMER (guitarra), também produtor desse disco e de muitos outros de PC. Sendo um músico experiente que já tocou com muita gente antes de se tornar “coringa” no GENESIS, seu solo é preciso. Não é um STEVE HACKET, mas funciona.
Achei ótimo Collins estar realmente atrás da bateria. Vale o conceito, o que o band leader é a cabeça da orquestra, mas isso não significa que tenha que solar em todas as músicas. Nisso esse disco é impecável.
Mas vamos à conclusão, já que eu preciso escrever uma, o que é sempre complicado quando se trata de um disco de FUSION. (?) “Como assim?” Você me pergunta. Veja só: o band leader é um cantor que foi baterista de grupos de rock e progressivo. Só isso já é fusion. Mas deixando a brincadeira de lado, se você gosta do PC, compre porque vai gostar apesar de não ter a voz dele. Se você é fã de big bands, esqueça. Tem muita coisa melhor por aí. Se você é fã do GENESIS, procure carregar seu iPOD com a LOS ENDOS SUITE que você estará bem.
John Paul Jones – The Thunderthief
Jones fez parte do lendário LED ZEPPELIN como baixista e tecladista, mas antes que prossiga é melhor que você esqueça isso. Seus discos vão além de LZ. Talvez sejam os experimentos que não conseguiu fazer na época, como bem lembrou um amigo meu. Esse álbum é o seu segundo solo e muito, muito interessante.
A carreira de JPJ não começou com LZ. Com o cantor DONOVAN e a música "MELLOW YELLOW", ele recebeu um Disco de Ouro pelo arranjo. Também tocou e arranjou “HURDY GURDY MAN” de Donovan, que vem a ser um bom exemplo do trabalho pré LZ com a presença de JIMMY PAGE. Foi aqui que os dois decidiram sua própria “aventura musical”, o LED ZEPPELIN.
O que logo chama a atenção neste álbum é a extensa lista de instrumentos usados por Jones: baixos de 4, 6,10 e 12 cordas, guitarra, bandolins elétrico e baixo, piano, órgão, sintetizadores, koto (um instrumento milenar japonês) e mais uma série de artefatos. Felizmente na bateria, há TERL BRYANT (experiente músico e professor de teologia da LONDON SCHOOL OF THEOLOGY) e não uma daquelas maquininhas chatas muito em voga e mal utilizadas. Outras presenças são NICK BEGGS (do extinto KAJAGOOGOO) no CHAPMAN STICK, ADAM BOMB (guitarra) e o excelente ROBERT FRIPP, que participa logo na primeira faixa, que inicia com uma repetição levada pelo baixo e bateria que parecem aguardar a entrada do Senhor CRIMSON, com um demolidor solo de guitarra que já vale todo o disco.
A segunda faixa, que dá nome ao disco tem excelente presença do baixo, talvez com as frases mais rápidas gravadas até então, lembrando o que TONY LEVIN (PETER GABRIEL, etc) ou JOHN ENTWISTLE (THE WHO) nunca fizeram em estúdio. Único problema são os vocais de JONES, que retardam o clima opressivo, mas nada que não possa ser superado, pois o arranjo é primoroso, com um bom solo de guitarra do próprio Jones.
HOEDIDDLE, que vem em seguida é genial, incorporando o melodia e instrumentos do folk irlandês com o estilo e intensidade do metal. Abre apenas com a guitarra de Jones num diálogo consigo mesma em delays longos, até que um riff (confesso que tem semelhanças com JIMMY PAGE) repetido prepara para segunda parte, outro bom solo com delays que antecede uma melodia executada em uníssono por baixos e bandolins, com um forte acento celta, mas longe de ser algo da WORLD MUSIC, é apenas um dos ingredientes dos experimentos iniciados com o LED. A seguir, ICE FISHING AT NIGHT é uma lenta balada com um belo piano, letra de gosto duvidoso e um vocal que nos faz sentir saudades de ROBERT PLANT. DAPHNE abre com PAGE, perdão, JONES na guitarra novamente (mas bem podia ser o guitarrista do LED) e a melodia é exposta por sintetizadores com um leve toque de KEITH EMERSON (tirando o virtuosismo) dos primeiros discos do ELP. Semelhanças com os dois primeiros álbuns de JEFF BECK não são à toa, pois JONES estava lá.
ADAM BOMB abre a sexta faixa, ANGRY ANGRY, com um jeitão punk “caduco”. A voz de JONES é que dá esse toque um tanto envelhecido, pois lhe falta a garra ou o desespero “RAMONES”. Em todo caso, a música foi criada em torno do solo de ADAM, que se sentiu muito honrado em participar desse disco, conforme nos conta em seu site. Como já aconteceu antes nesse álbum, a faixa seguinte (DOWN TO THE RIVER TO PRAY) redime a anterior. Aqui o clima se acalma e volta a uma tradição mais folk, com violões e bandolins. É uma música folclórica arranjada por JONES e daquelas boas pra se ouvir em um dia ensolarado, um bom contraponto com o clima mais denso do album. SHIBUYA BOP retorna o clima pesado, com baixos sobrepostos que mostram toda a capacidade e inventividade de JONES. Aqui o KOTO é usado de uma forma muito pouco tradicional pra fazer intervenções ou BRIDGES. Há também um certo clima CRIMSONIANO (reminiscências de um KING CRIMSON do início dos anos 80 e as músicas instrumentais que fizeram em álbuns como DISCIPLINE) na justaposição das diversas frases e melodias. Um solo de órgão complementa o clima e dá um toque quase experimental. Sucessivas mudanças de andamento são reforçadas pela presença do STICK de NICK BEGGS, chegando a dificultar identificar quem toca o que. Grande faixa.
O álbum encerra com FREEDOM SONG, que parece mais “traditional” do que DOWN TO THE RIVER... Apenas koto (um instrumento japonês de três cordas) e voz. Aqui a voz encaixa no clima e lembra THE CHIEFTAINS, o que é sempre uma boa referência, já que o grupo é uma das principais vozes do folk inglês.
Álbuns de baixistas costumam ser reveladores, pois nos mostram até que ponto o músico é (ou era como no caso) “sufocado” ou renegado. Não creio que fosse o caso no LED, mas que aqui há muito mais espaço para uma sonoridade única e seu próprio som é indiscutível.
THE THUNDERTIEF é um álbum bem interessante, mas não é dos mais fáceis de se ouvir. Aqueles acostumados ao som pesado vão com certeza encontrar o que gostam e talvez pulem as faixas mais lentas, mas por baixo do peso, há um grande músico dando o melhor de si. Os saudosos do LED ZEPPELIN sentirão falta dos vocais de ROBERT PLANT, mas é só esquecer as origens do que se ouve e mergulhar no universo denso de JOHN PAUL JONES para apreciar esse ótimo trabalho, principalmente para os interessados na boa música que não se ouve nas rádios.
A carreira de JPJ não começou com LZ. Com o cantor DONOVAN e a música "MELLOW YELLOW", ele recebeu um Disco de Ouro pelo arranjo. Também tocou e arranjou “HURDY GURDY MAN” de Donovan, que vem a ser um bom exemplo do trabalho pré LZ com a presença de JIMMY PAGE. Foi aqui que os dois decidiram sua própria “aventura musical”, o LED ZEPPELIN.
O que logo chama a atenção neste álbum é a extensa lista de instrumentos usados por Jones: baixos de 4, 6,10 e 12 cordas, guitarra, bandolins elétrico e baixo, piano, órgão, sintetizadores, koto (um instrumento milenar japonês) e mais uma série de artefatos. Felizmente na bateria, há TERL BRYANT (experiente músico e professor de teologia da LONDON SCHOOL OF THEOLOGY) e não uma daquelas maquininhas chatas muito em voga e mal utilizadas. Outras presenças são NICK BEGGS (do extinto KAJAGOOGOO) no CHAPMAN STICK, ADAM BOMB (guitarra) e o excelente ROBERT FRIPP, que participa logo na primeira faixa, que inicia com uma repetição levada pelo baixo e bateria que parecem aguardar a entrada do Senhor CRIMSON, com um demolidor solo de guitarra que já vale todo o disco.
A segunda faixa, que dá nome ao disco tem excelente presença do baixo, talvez com as frases mais rápidas gravadas até então, lembrando o que TONY LEVIN (PETER GABRIEL, etc) ou JOHN ENTWISTLE (THE WHO) nunca fizeram em estúdio. Único problema são os vocais de JONES, que retardam o clima opressivo, mas nada que não possa ser superado, pois o arranjo é primoroso, com um bom solo de guitarra do próprio Jones.
HOEDIDDLE, que vem em seguida é genial, incorporando o melodia e instrumentos do folk irlandês com o estilo e intensidade do metal. Abre apenas com a guitarra de Jones num diálogo consigo mesma em delays longos, até que um riff (confesso que tem semelhanças com JIMMY PAGE) repetido prepara para segunda parte, outro bom solo com delays que antecede uma melodia executada em uníssono por baixos e bandolins, com um forte acento celta, mas longe de ser algo da WORLD MUSIC, é apenas um dos ingredientes dos experimentos iniciados com o LED. A seguir, ICE FISHING AT NIGHT é uma lenta balada com um belo piano, letra de gosto duvidoso e um vocal que nos faz sentir saudades de ROBERT PLANT. DAPHNE abre com PAGE, perdão, JONES na guitarra novamente (mas bem podia ser o guitarrista do LED) e a melodia é exposta por sintetizadores com um leve toque de KEITH EMERSON (tirando o virtuosismo) dos primeiros discos do ELP. Semelhanças com os dois primeiros álbuns de JEFF BECK não são à toa, pois JONES estava lá.
ADAM BOMB abre a sexta faixa, ANGRY ANGRY, com um jeitão punk “caduco”. A voz de JONES é que dá esse toque um tanto envelhecido, pois lhe falta a garra ou o desespero “RAMONES”. Em todo caso, a música foi criada em torno do solo de ADAM, que se sentiu muito honrado em participar desse disco, conforme nos conta em seu site. Como já aconteceu antes nesse álbum, a faixa seguinte (DOWN TO THE RIVER TO PRAY) redime a anterior. Aqui o clima se acalma e volta a uma tradição mais folk, com violões e bandolins. É uma música folclórica arranjada por JONES e daquelas boas pra se ouvir em um dia ensolarado, um bom contraponto com o clima mais denso do album. SHIBUYA BOP retorna o clima pesado, com baixos sobrepostos que mostram toda a capacidade e inventividade de JONES. Aqui o KOTO é usado de uma forma muito pouco tradicional pra fazer intervenções ou BRIDGES. Há também um certo clima CRIMSONIANO (reminiscências de um KING CRIMSON do início dos anos 80 e as músicas instrumentais que fizeram em álbuns como DISCIPLINE) na justaposição das diversas frases e melodias. Um solo de órgão complementa o clima e dá um toque quase experimental. Sucessivas mudanças de andamento são reforçadas pela presença do STICK de NICK BEGGS, chegando a dificultar identificar quem toca o que. Grande faixa.
O álbum encerra com FREEDOM SONG, que parece mais “traditional” do que DOWN TO THE RIVER... Apenas koto (um instrumento japonês de três cordas) e voz. Aqui a voz encaixa no clima e lembra THE CHIEFTAINS, o que é sempre uma boa referência, já que o grupo é uma das principais vozes do folk inglês.
Álbuns de baixistas costumam ser reveladores, pois nos mostram até que ponto o músico é (ou era como no caso) “sufocado” ou renegado. Não creio que fosse o caso no LED, mas que aqui há muito mais espaço para uma sonoridade única e seu próprio som é indiscutível.
THE THUNDERTIEF é um álbum bem interessante, mas não é dos mais fáceis de se ouvir. Aqueles acostumados ao som pesado vão com certeza encontrar o que gostam e talvez pulem as faixas mais lentas, mas por baixo do peso, há um grande músico dando o melhor de si. Os saudosos do LED ZEPPELIN sentirão falta dos vocais de ROBERT PLANT, mas é só esquecer as origens do que se ouve e mergulhar no universo denso de JOHN PAUL JONES para apreciar esse ótimo trabalho, principalmente para os interessados na boa música que não se ouve nas rádios.
Keith Emerson - Plays Emerson
Welcome back my friends to the show that never ends - Ladies and gentlemen Keith Emerson.
Dito isto (este título imenso parafraseando o album mais conhecido do trio de Keith) vamos aos fatos: EMERSON PLAYS EMERSON, do tecladista KEITH EMERSON não é um disco para todo e qualquer fã do ELP. Pra começar não tem um único MOOG. Não tem a bateria do CARL PALMER e nem a voz do GREG LAKE. Se você não se importa com isso vá em frente.
Nenhum dos elementos acima faz falta, mas poucos estão dispostos a ouvir piano solo. Nunca fui um desses e ao contrário da maioria, esperava ardentemente que meus tecladistas favoritos gravassem alguma coisa em piano pra que eu pudesse compara-los. É muito “fácil” iludir os ouvintes com pilhas de sintetizadores. O mesmo não se dá com um instrumento tão nobre como é o piano.
KE sempre teve no piano seu maior companheiro. Suas músicas eram (são) compostas nele e depois “convertidas” para o arranjo de sintetizadores, órgãos, clavinetes, melotrons, etc. Neste disco ele tem a chance de coloca-lo em primeiríssimo plano. O material é um tanto diverso, mas passada a primeira faixa, a balada VAGRANT, encontramos o velho KE de sempre em CREOLE DANCE do argentino ALBERTO GINASTERO, de quem ele eternizou para o público progressivo a bela TOCATTA. Essa segunda faixa traz toda a energia do velho (e porque não?) ELP.
Mas o bom de se ouvir apenas o piano é que o músico tem a chance de mostrar e provar pra que veio. O contraste entre CREOLE DANCE e a terceira faixa SOLITUDINOUS é característico disso. É uma música muito bonita, que deixa claro que KE é de fato um bom compositor além de músico dado a piruetas.
Curioso KE citar o comediante DUDLEY MOORE no encarte – por sinal ponto forte do disco, cheio de bons e pertinentes comentários do artista - mas é que por aqui poucos sabem que ele era um bom pianista clássico. Em BROKEN BOUGH, KE presta-lhe um tributo. Vale a pena ficar de olho em um especial que volta e meia o canal Multishow reapresenta com o DM falando sobre música clássica com diversos maestros e regendo além de tocar.
A CAJUN ALLEY já traz o lado mais “mundano” de KE que por vezes aparecia em uma ou outra música curta do ELP, como BENNY BOUNCE, e este estilo (CAJUN MUSIC, típico da Louisiana francesa) lembram muito os boogie-woogies que ele tocava nos improvisos de piano e no álbum WORKS 2. Já PRELUDE TO CANDICE é outra balada, trilha do filme italiano MURDEROCK, mas que tem a harmonia característica das composições do ELP. Fica o suspense de quando entrará a bateria de CP ou o vozeirão de GL.
A BLADE OF GRASS tem uma historinha curiosa, daquelas que gostamos de contar para os amigos. Ele conta que durante a gravação de BLACK MOON, enquanto o produtor MARK MANCINA regulava a mesa de som, ele improvisou um pouco ao piano. O MM veio ver e como já estava tarde, marcaram a gravação para o dia seguinte. Pois ele chegou no estúdio, foi ao banheiro e quando tirou o casaco ouviu um CLUNK e um SPLASH. A agenda eletrônica dele caíra dentro do vaso (isso mesmo) e ficou boiando lá inutilizada e com a partitura dentro dela. O jeito foi se concentrar (quem ler o encarte original vai saber o que envolveu a “concentração”) e tentar relembrar o que escrevera. Parece que deu certo. OUTGOING TIDE tem uma introdução um tanto suspeita, mas os primeiros acordes da melodia aparecem pra salvar a tempo. É uma composição muito pianística e não é qualquer um que se sai bem com a dinâmica e a entonação que ela pede.
Eis que surge SUMMERTIME. Isso mesmo, talvez a música mais gravada de GEORGE GERSHWIN, mas não há nisso nenhum demérito, pois ela permite as mais variadas interpretações e KE opta por uma levemente mais jazzística com a participação dos músicos MIKE BARSIMANTO e JERRY WATTS, na bateria e no baixo respectivamente. O amigo de KE, KEVIN GILBERT foi o responsável por ligar os gravadores e gravar essa versão, que pelo indicado foi primeira e única. INTERLUDE, como ele mesmo diz no encarte: “Is what it is.” ROLL’N JELLY é uma brincadeira com o nome de JELLY ROLL MORTON, pai do piano jazzístico que libertou e dignificou os pianistas, antes meros fazedores de música em bordéis. KE está completamente à vontade no estilo.
Na música seguinte (B&W BLUES), outros dois músicos aparecem: FRANK SCULLY (bateria) e ROB STATHAM (baixo). O trio está bem melhor aqui, principalmente por causa do baixo de RS, mais presente e ensaiado que o de JW. Um tema de blues com uma levada jazzística ao estilo de OSCAR PETERSON (mais sobre ele daqui a pouco). Pelo que conhecemos do KE, o B&W do título deve muito bem se referir a uma conhecida marca de uísque.
Chegamos pois a FOR KEVIN, uma música gravada ao vivo e em memória do amigo (então falecido) KG. Foi gravada em 1996 e apesar do timbre, ou foi gravada em um piano “midiado” ou foi usado um sintetizador (prefiro a primeira opção por causa dos acordes finais – não havia tão bons sintetizadores assim nessa época gerando sons de piano). Umas irritantes cordas aparecem por trás da melodia, uma espécie de réquiem. Vale por conta da homenagem e por sentirmos a “humanidade” de KE ressentido pela perda do amigo. THE DREAMER é outra música de cinema, do filme BEST REVENGE. Nota-se que KE não é um compositor de trilhas, mas de músicas. Ouça e concorde ou discorde.
Em HAMMER IT OUT, KE lembra que o piano é um instrumento da família da percussão (por causa dos martelinhos que batem nas cordas) e nessa composição não nos deixa esquecer disso.
BALLAD FOR A COMMOM MAN não é o que eu esperava. O que eu queria? Talvez que ele tocasse a composição de AARON COPLAND sem aquele timbre chato do órgão Yamaha que ele usou pra grava-la em WORKS 2 do ELP. Como ele diz no encarte que a fanfarra nós já ouvimos, fiquemos então com a balada. Em tempo: a FANFARRE FOR A COMMOM MAN é parte da belíssima Sinfonia Nº 3 para piano de AC. Vale conferir.
BARRELHOUSE SHAKEDOWN apareceu pela primeira vez como lado B do compacto simples que tinha HONKY TONK TRAIN BLUES, que apareceu em WORKS 2. Aqui ela aparece em uma nova gravação sem os colegas do trio e a orquestra do mesmo álbum, mas nem por isso perde o brilho e o colorido. O cara se divide em dois pra tocar uma coisa dessas, mas essa é a beleza do piano. Compare as versões e veja por você mesmo que ele se divide em muitos suprindo as partes da orquestra.
NILU’S DREAM é outra balada. Estávamos vindo em um ritmo crescente e este tema serve pra colocar as coisas de volta em ambientes mais calmos. Funcionaria como “introdução” para a música seguinte (SOULSCAPES), mas a diferença entre os timbres dos pianos é tanta que quase assusta. Não que sejam ruins, apenas nota-se que mudou.
CLOSE TO HOME é outra das três faixas ao vivo do disco. Gravada em 1992 no ROYAL ALBERT HALL, é bem interessante apesar do mesmo timbre com cordas. Acredito que ao vivo funcionasse bem, mas no disco as cordas soam um pouco em demasia, mas aqui temos os glissandros e outras figuras rocambolescas que aprendemos a gostar no nosso amigo.
Bem, é um álbum com faixas suficientes pra ninguém dizer que foi iludido. Estamos indo para a 21ª e esta foi a razão por me interessar por este disco. KE toca com seu ídolo: OSCAR PETERSON. Mas não é só isso, eles tocam HONKY TONK TRAIN BLUES, um clássico do grande (em todos os sentidos) MEADE LUX LEWIS. Mas espere (parece anúncio de facas da TV), tem mais ainda: eles são acompanhados por uma big band. É fantástico. Muito bom. Queria estar em Londres em 1976 pra assistir esse programa do OP: PIANO PARTY, onde ele convidava pianistas famosos (na verdade seria muito estar em Londres nessa época por todos os motivos).
Sendo assim, chegamos na última faixa do disco, a 22ª. Deveriam ter incluído essa faixa e dito que era um bônus. Não que ela seja ruim, mas é de pouco interesse ouvir KE tocando piano aos 14 anos. Vale o registro histórico. É engraçado ouvir o som de “taquara rachada” e desafinado do piano, mas com certeza não é imperdível como algumas das faixas que a antecedem.
Eu disse imperdível? Pois é, esse disco é imperdível pros fãs de outrora.
Valeu
T+
Nenhum dos elementos acima faz falta, mas poucos estão dispostos a ouvir piano solo. Nunca fui um desses e ao contrário da maioria, esperava ardentemente que meus tecladistas favoritos gravassem alguma coisa em piano pra que eu pudesse compara-los. É muito “fácil” iludir os ouvintes com pilhas de sintetizadores. O mesmo não se dá com um instrumento tão nobre como é o piano.
KE sempre teve no piano seu maior companheiro. Suas músicas eram (são) compostas nele e depois “convertidas” para o arranjo de sintetizadores, órgãos, clavinetes, melotrons, etc. Neste disco ele tem a chance de coloca-lo em primeiríssimo plano. O material é um tanto diverso, mas passada a primeira faixa, a balada VAGRANT, encontramos o velho KE de sempre em CREOLE DANCE do argentino ALBERTO GINASTERO, de quem ele eternizou para o público progressivo a bela TOCATTA. Essa segunda faixa traz toda a energia do velho (e porque não?) ELP.
Mas o bom de se ouvir apenas o piano é que o músico tem a chance de mostrar e provar pra que veio. O contraste entre CREOLE DANCE e a terceira faixa SOLITUDINOUS é característico disso. É uma música muito bonita, que deixa claro que KE é de fato um bom compositor além de músico dado a piruetas.
Curioso KE citar o comediante DUDLEY MOORE no encarte – por sinal ponto forte do disco, cheio de bons e pertinentes comentários do artista - mas é que por aqui poucos sabem que ele era um bom pianista clássico. Em BROKEN BOUGH, KE presta-lhe um tributo. Vale a pena ficar de olho em um especial que volta e meia o canal Multishow reapresenta com o DM falando sobre música clássica com diversos maestros e regendo além de tocar.
A CAJUN ALLEY já traz o lado mais “mundano” de KE que por vezes aparecia em uma ou outra música curta do ELP, como BENNY BOUNCE, e este estilo (CAJUN MUSIC, típico da Louisiana francesa) lembram muito os boogie-woogies que ele tocava nos improvisos de piano e no álbum WORKS 2. Já PRELUDE TO CANDICE é outra balada, trilha do filme italiano MURDEROCK, mas que tem a harmonia característica das composições do ELP. Fica o suspense de quando entrará a bateria de CP ou o vozeirão de GL.
A BLADE OF GRASS tem uma historinha curiosa, daquelas que gostamos de contar para os amigos. Ele conta que durante a gravação de BLACK MOON, enquanto o produtor MARK MANCINA regulava a mesa de som, ele improvisou um pouco ao piano. O MM veio ver e como já estava tarde, marcaram a gravação para o dia seguinte. Pois ele chegou no estúdio, foi ao banheiro e quando tirou o casaco ouviu um CLUNK e um SPLASH. A agenda eletrônica dele caíra dentro do vaso (isso mesmo) e ficou boiando lá inutilizada e com a partitura dentro dela. O jeito foi se concentrar (quem ler o encarte original vai saber o que envolveu a “concentração”) e tentar relembrar o que escrevera. Parece que deu certo. OUTGOING TIDE tem uma introdução um tanto suspeita, mas os primeiros acordes da melodia aparecem pra salvar a tempo. É uma composição muito pianística e não é qualquer um que se sai bem com a dinâmica e a entonação que ela pede.
Eis que surge SUMMERTIME. Isso mesmo, talvez a música mais gravada de GEORGE GERSHWIN, mas não há nisso nenhum demérito, pois ela permite as mais variadas interpretações e KE opta por uma levemente mais jazzística com a participação dos músicos MIKE BARSIMANTO e JERRY WATTS, na bateria e no baixo respectivamente. O amigo de KE, KEVIN GILBERT foi o responsável por ligar os gravadores e gravar essa versão, que pelo indicado foi primeira e única. INTERLUDE, como ele mesmo diz no encarte: “Is what it is.” ROLL’N JELLY é uma brincadeira com o nome de JELLY ROLL MORTON, pai do piano jazzístico que libertou e dignificou os pianistas, antes meros fazedores de música em bordéis. KE está completamente à vontade no estilo.
Na música seguinte (B&W BLUES), outros dois músicos aparecem: FRANK SCULLY (bateria) e ROB STATHAM (baixo). O trio está bem melhor aqui, principalmente por causa do baixo de RS, mais presente e ensaiado que o de JW. Um tema de blues com uma levada jazzística ao estilo de OSCAR PETERSON (mais sobre ele daqui a pouco). Pelo que conhecemos do KE, o B&W do título deve muito bem se referir a uma conhecida marca de uísque.
Chegamos pois a FOR KEVIN, uma música gravada ao vivo e em memória do amigo (então falecido) KG. Foi gravada em 1996 e apesar do timbre, ou foi gravada em um piano “midiado” ou foi usado um sintetizador (prefiro a primeira opção por causa dos acordes finais – não havia tão bons sintetizadores assim nessa época gerando sons de piano). Umas irritantes cordas aparecem por trás da melodia, uma espécie de réquiem. Vale por conta da homenagem e por sentirmos a “humanidade” de KE ressentido pela perda do amigo. THE DREAMER é outra música de cinema, do filme BEST REVENGE. Nota-se que KE não é um compositor de trilhas, mas de músicas. Ouça e concorde ou discorde.
Em HAMMER IT OUT, KE lembra que o piano é um instrumento da família da percussão (por causa dos martelinhos que batem nas cordas) e nessa composição não nos deixa esquecer disso.
BALLAD FOR A COMMOM MAN não é o que eu esperava. O que eu queria? Talvez que ele tocasse a composição de AARON COPLAND sem aquele timbre chato do órgão Yamaha que ele usou pra grava-la em WORKS 2 do ELP. Como ele diz no encarte que a fanfarra nós já ouvimos, fiquemos então com a balada. Em tempo: a FANFARRE FOR A COMMOM MAN é parte da belíssima Sinfonia Nº 3 para piano de AC. Vale conferir.
BARRELHOUSE SHAKEDOWN apareceu pela primeira vez como lado B do compacto simples que tinha HONKY TONK TRAIN BLUES, que apareceu em WORKS 2. Aqui ela aparece em uma nova gravação sem os colegas do trio e a orquestra do mesmo álbum, mas nem por isso perde o brilho e o colorido. O cara se divide em dois pra tocar uma coisa dessas, mas essa é a beleza do piano. Compare as versões e veja por você mesmo que ele se divide em muitos suprindo as partes da orquestra.
NILU’S DREAM é outra balada. Estávamos vindo em um ritmo crescente e este tema serve pra colocar as coisas de volta em ambientes mais calmos. Funcionaria como “introdução” para a música seguinte (SOULSCAPES), mas a diferença entre os timbres dos pianos é tanta que quase assusta. Não que sejam ruins, apenas nota-se que mudou.
CLOSE TO HOME é outra das três faixas ao vivo do disco. Gravada em 1992 no ROYAL ALBERT HALL, é bem interessante apesar do mesmo timbre com cordas. Acredito que ao vivo funcionasse bem, mas no disco as cordas soam um pouco em demasia, mas aqui temos os glissandros e outras figuras rocambolescas que aprendemos a gostar no nosso amigo.
Bem, é um álbum com faixas suficientes pra ninguém dizer que foi iludido. Estamos indo para a 21ª e esta foi a razão por me interessar por este disco. KE toca com seu ídolo: OSCAR PETERSON. Mas não é só isso, eles tocam HONKY TONK TRAIN BLUES, um clássico do grande (em todos os sentidos) MEADE LUX LEWIS. Mas espere (parece anúncio de facas da TV), tem mais ainda: eles são acompanhados por uma big band. É fantástico. Muito bom. Queria estar em Londres em 1976 pra assistir esse programa do OP: PIANO PARTY, onde ele convidava pianistas famosos (na verdade seria muito estar em Londres nessa época por todos os motivos).
Sendo assim, chegamos na última faixa do disco, a 22ª. Deveriam ter incluído essa faixa e dito que era um bônus. Não que ela seja ruim, mas é de pouco interesse ouvir KE tocando piano aos 14 anos. Vale o registro histórico. É engraçado ouvir o som de “taquara rachada” e desafinado do piano, mas com certeza não é imperdível como algumas das faixas que a antecedem.
Eu disse imperdível? Pois é, esse disco é imperdível pros fãs de outrora.
Valeu
T+
Quaterna Requiem - Livre
QUATERNA REQUIEM LIVRE foi comentado em uma edição da revista francesa HARMONIE e o comentarista achou que LIVRE era a palavra brasileira para LIVE, ou seja, AO VIVO. Bem, a desinformação do crítico não invalida a bem feita análise, mas é uma baita falha “lingüística”. LIVRE foi gravado no SCALA, Rio de Janeiro em dezembro de 1997 no RIO ART FESTIVAL realizado lá e que contou com outras boas bandas (mas isso é pra outro comentário).
Um disco ao vivo traz no mínimo dois desafios para o artista. O primeiro de ordem técnica: “Será a gravação tão boa quanto o álbum de estúdio?”. Graças a tecnologia, hoje isso não é mais um grande problema. LIVRE é perfeito nesse ponto. O segundo desafio (também de ordem técnica, mas “pessoal”) é: “Serão eles capazes de tocar ao vivo o que fizeram no estúdio?”. Aí a coisa complica. Às vezes, maravilhados pela capacidade de se fazer o “impossível” em um estúdio, a apresentação ao vivo fica integralmente comprometida. Quanto ao QUATERNA, parece nem ter tido esse tipo de preocupação. A execução é impecável.
Normalmente, um disco desse tipo, é lançado com as melhores execuções realizadas em vários shows. Mas nem sempre se pode contar com todo o aparato tecnológico para ser realizar uma boa gravação. O que reforça ainda mais a qualidade dos músicos é ser este LIVRE, o documento de uma apresentação única. Não havia como (nem porque) escolher entre diferentes versões. Todas “valeram”.
O grupo é formado por ELISA WIERMAN (teclados), CLAUDIO DANTAS (bateria & percussão), JOSÉ R.CRIVANO (guitarra) e enriquecido pelas participações especiais de FRED FONTES (baixo) e KLEBER VOGEL (violino).
Poderia ficar escrevendo parágrafos e mais parágrafos sobre o fato de ser liderado por uma mulher, mas seria machismo demais da minha parte. Como não sou dado a isso, apenas saliento o fato, já que são poucas as mulheres instrumentistas nesse mundo (pretensamente) capitaneado pelos homens.
LIVRE é o terceiro disco da excelente carreira do grupo, que fez sua estréia com VELHA GRAVURA (1992) seguido por QUASIMODO (1994). QUATERNA é daquelas bandas que parece ter nascida “pronta”. Essa é uma característica muito comum no rock progressivo, mas que não encontra similar nos outros estilos. VELHA GRAVURA é um disco, que após a primeira audição, nos perguntamos: “Como será o segundo?”. “Terão eles idéias, imaginação, capacidade, para outro tão bom?”. A resposta é simples: tiveram. QUASIMODO é tão bom quanto o primeiro.
Este ao vivo, abre com FANFARRA e QUASIMODO (em versão reduzida de 19 minutos) do segundo álbum. Depois a inédita TRÍADE, IRMÃOS GRIMM e VELHA GRAVURA. As duas últimas do primeiro álbum. Entre elas um solo de bateria.
Preciso abrir um parênteses aqui. Não espere um solo muito convencional, pois a exemplo de outros bateristas contemporâneos, DANTAS é capaz de ser melódico e usar sintetizadores acoplados a seus tambores – lembram de CARL PALMER? Fazia algo inovador, pioneiro e semelhante pelos idos dos anos 70. Dantas é inclusive, um excelente pintor sendo de sua autoria as belas gravuras usadas nas capas dos dois primeiros álbuns. Tal diversidade nem um pouco incompatível, confirma a sensibilidade do artista.Fecha parênteses.
EW por sua vez é uma tecladista que sabe muito bem como colocar seus instrumentos. Seja fazendo base para os solos da guitarra de CRIVANO ou nas boas passagens de solo. Seu mérito não acaba aí, pois também são dela (em parceria com DANTAS), as composições e arranjos.
Minha música favorita é a romântica VELHA GRAVURA, que conta com o belo violino de VOGEL, integrante da primeira formação do QR, líder do grupo KAIZEN (que espero estar comentando nas próximas colunas) e que lançou junto com EW um novo CD, A MÃO LIVRE, inspirado em uma exposição do baterista CD.
O QR é sinfônico sem ser megalômano, romântico sem ser piegas, uma excelente banda que merecia ter mais espaço, mas não é tão ouvida porque o público (em geral), tem pouca (ou nenhuma) chance de ser apresentado a eles. Falha que não é culpa do grupo. Culpa sim, de um “sistema”, que segrega bons músicos e boas músicas, enchendo nossos ouvidos com um lixo desagradável.
A última novidade é o DVD que estão produzindo e está em fase final de mixagem. Assim que estiver disponível eu aviso a vocês.
QR tem um lugar assegurado no cenário artístico brasileiro e mundial. Como outros tantos, merecia maior e melhor e destaque. Pra isso, é preciso que você ajude a mudar o “sistema”.
Valeu
T+
Site oficial da banda: www.quaternarequiem.com
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