McCoy Tyner é um grande pianista que dispensa apresentações. Todos os seus álbuns são ótimos, mas esse em particular me traz grandes lembranças. A maior delas foi a de ter descoberto o violinista John Blake exatamente aqui. Entretanto, esse é um disco singular por muitos motivos. As composições de Tyner aqui tem um desenvolvimento um pouco diferente. Peguemos por exemplo a faixa de abertura. Horizon possui uma cadência forte e acentuada, repleta de sincopadas do piano do líder e ótimos solos de Joe Ford no sax alto e de John Blake no violino. Apesar da levada jazzística e da condução soberba de Al Foster na bateria, os improvisos sobre uma das figuras rítmicas do tema não era muito característicos dos discos de Tyner. Apesar do timbre do violino de Blake lembrar o de outro grande violinista, o francês Jean Luc Ponty, seu som é um pouco mais “sujo” sem se valer de recursos eletrônicos. Guilherme Franco também está presente com um curto solo de congas. O tema é de colar no ouvido e de se ficar assobiando, magistralmente exposto pelo líder e Blake, com acentuações dos metais integrados por George Adams Além do já citado Ford.
"Woman of Tomorrow", a segunda faixa abre com Tyner seguido por Blake na exposição do tema. Aqui o violino é daqueles “de chorar”, lembrando as melodias de Piazzola. Após a dramática abertura, Blake interpõe improvisos ao tema acompanhado por Ford e Adams nas flautas. Em Motherland destaca-se o baixo de Charles Fambourgh que começa sozinho aparentemente mostrando o tema, mas que na verdade é apenas uma cadência para os solos dos companheiros. Tyner faz o último solo em uma faixa repleta de energia. Uma rumba em levada rápida seria One For Honor. Pelo menos ela começa assim, novamente com o baixo de Charles. O tempo rápido é tudo o que Tyner precisa pra improvisar. Como aqui há só o trio piano baixo e bateria, fica fácil perceber a independência entre as mãos de Tyner, dando aquela gostosa sensação de dois pianos. Just Feelin’ é a última (no LP original) e poderia ser apenas “sentimento”, mas há muita técnica envolvida aqui, tanto na maestria de Tyner quanto no sax de Adams. O CD traz uma faixa bônus. Uma versão alternativa de Horizon. O disco foi magistralmente produzido por Orrin Keepnews, que revela no encarte alguns detalhes de como funcionava seu pequeno selo nos idos anos 70. Entre outras coisas, descobrimos que não há mais faixas extras porque as músicas foram gravadas direto, em apenas uma tomada. Muito, mas muito diferente dos discos superproduzidos e repletos de overdubs de outros artistas, até mesmo jazzísticos. Horizon tem quase 30 anos mas poderia muito bem ter sido produzido no mês passado ou no ano que vem. Mais atual impossível.
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