Confesso que encontrei este CD por um acaso mais do que absoluto. Nunca tinha ouvido falar em AZIZA MUSTAFA ZADEH e me arrependo profundamente.
AZIZA é uma pianista fabulosa. Nasceu em Baku, capital do Azerbaijão e sinceramente temos poucas notícias daquelas terras. Entretanto este álbum é de 1995 e os músicos que tocam com ela são simplesmente Al DiMeola (violões), Stanley Clarke (baixos), Bill Evans (sax) e Omar Hakim (bateria). Quando me dei conta perguntava “como eles conhecem ela e eu não?”
DANCE OF FIRE tem 11 músicas de autoria dela e os músicos estão completamente à vontade. Bem, Eles sempre estão, mas é que o que se pode notar é que a “conversa” é de iguais. Ela não está com esse time de primeira por acaso. Eles são tão bons quanto ela. O pai dela – VAGIF MUSTAFA ZADEH - era pianista e compositor, famoso por misturar MUGAN – a música tradicional de lá – com o jazz. Sua mãe era uma cantora lírica que abandonou os palcos para se dedicar à carreira da filha, que ganhou o primeiro prêmio do prestigioso concurso de piano Thelonius Monk nos EUA com o seu próprio estilo, herdado das influências diretas pai. Pianista clássica entusiasta de Chopin, ela admite que não pratica o suficiente, apensa deixa a música fluir e sua capacidade de improvisação fica clara na audição de qualquer um de seus discos.
A interação entre os músicos é fantástica. A primeira faixa (BOOMERANG) tem uma divisão que a aproxima de um tango e STANLEY faz uníssonos lindos na segunda faixa (DANCE OF FIRE), sucedido pelo violão de DiMeola. O tema é dividido harmoniosamente entre os três. SHEHEREZADE começa misteriosamente como um tema árabe, pra em seguir revelar-se uma linda balada romântica, praticamente uma valsa, ao passo que ASPIRATION tem inúmeras semelhanças com o novo-tango de PIAZZOLA. A longa BANA BANA GEL traz a bela voz de AZIZA em dueto com a improvisação do sax de EVANS sobre divisões não muito habituais. Seus vocais lembram os da cantora e também tecladista GAYLE MORAN, esposa de CHICK COREA e tecladista da MAHAVISHNU ORCHESTRA. SHADOW abre melancolicamente com o sax de EVANS e permite a AZIZA mostra seu talento na improvisação. CARNIVAL traz a voz de AZIZA em dobras, formando um coro e levanta o astral quase derrubado pela melancolia da anterior, enquanto a seguinte (PASSION) retorna às divisões arrebatadoras das primeiras faixas. Já SPANISH PICTURE permite DiMeola mostrar seu talento, apesar de ter pouco do que chamaríamos de espanhol, mas é indiscutível o tom “mouro” do tema. TO BE CONTINUED é um excelente veículo para o trio mais tradicional do jazz. Um disco tão incrível fecha com uma merecida homenagem em FATHER onde a mistura de MUGAN e jazz passariam despercebidos, não fosse esse um disco de uma pianista do Azerbaijão radicada na Alemanha.
Excelente disco capaz pegar de surpresa qualquer um, como foi meu caso.