JOHN MC LAUGHLIN é um conhecido guitarrista que flertou com os mais diversos estilos, do jazz ao fusion, da música espanhola à indiana. O que poucos sabem é que sua esposa KATIA LABEQUE era a responsável pelos teclados dos discos e shows na década de 80.
BELO HORIZONTE é com certeza um disco que homenageia nossa terra, ou pelo menos uma de nossas cidades. Gravado em 1981 é da fase espanhola dele e traz a presença de dois tecladistas. Além da esposa, que toca piano acústico, FRANCOIS COUTURIER toca piano elétrico. Ambos dividem-se entre os sintetizadores, usados de uma forma sutil, quase orquestral, dando ao álbum uma sensação acústica. Os outros músicos são JEAN PAUL CELEA (baixo), FRANCOIS JEANNEAU (saxes), JEAN PIERRE DROUET e STEVE SHEMAN (percussão) e AUGUSTIN DUMAY (violino) e PACO DE LUCIA (violão).
O fato de o álbum ter sido gravado na França não parece ter influenciado o trabalho do JOHN, mas é clara a aproximação com o som brasileiro. A faixa de abertura é exatamente a que dá nome ao disco e mostra qual a intenção dessa banda liderada pelo irrequieto guitarrista, com os teclados funcionando como uma pequena orquestra e base para seu virtuosismo. ONE MELODY, pela introdução, poderia ser uma música brasileira, mas o andamento acelerado a aproxima das composições do guitarrista belga PHILIPE CATHERINE. Apesar de o destaque ser para o violão de JOHN e o sax de FRANCOIS, a presença dos dois tecladistas não pode deixar de ser notada em uma audição mais cuidadosa. Entretanto é WALTZ FOR KATIA o maior destaque do disco, com a presença do lírico violino de AUGUSTIN na exposição do tema e o intrincado improviso de KATIA, um pouco ao estilo de JOHN, mas mostrando que a pianista, de formação clássica, está perfeitamente à vontade no idioma jazzístico. A bela balada ZAMFIR é outra faixa onde se destaca um dos tecladistas, no caso, um solo de sintetizador de FRANCOIS, que evolui a partir da complementação de uma frase do sax e que é de uma sutileza sem par. O timbre é mais para anos 70 do que 80. Apesar de não constar da ficha técnica, é quase certo que o synth usado foi um ARP, ícone dos sintetizadores dos anos 70 ao lado do MOOG. O álbum encerra com um duo do líder com o espanhol PACO DE LUCIA, uma faixa em que me peguei imaginando em sua transcrição para piano solo.
Pois é, esse não é um disco fundamental para a discoteca dos tecladistas, mas muito interessante pra qualquer um que goste de música com sotaque espanhol e pra se apreciar o ótimo trabalho de KATIA LABEQUE e FRANCOIS COUTURIER.